O regresso

"O Regresso" chega-nos aureolado com o Leão de Ouro de Veneza e é muitas vezes associado ao mundo rarefeito e perturbador de Andrei Tarkovsky, o que, desde logo, lhe abre portas para desmesurados prestígios.

E, no entanto, a partir do primeiro plano nos confrontamos com um perfeccionismo fabricado, com um cuidado visual que soa a falso. Em inglês, existe uma palavra para filmes como este, "arty", ou seja "a fazer artístico", na busca de uma fácil adesão a um mistério que esconde obscuro desígnio: manipular o olhar do espectador e fazê-lo disfrutar do bonito das imagens. Tudo está no sítio certo (demasiado certo), tudo aparece no ponto perfeito para angustiar por medida. Aprecia-se a justeza do trabalho fotográfico, das interpretações, da montagem, mas fica uma pergunta pertinente: não se tratará de uma forma de ocultar alguma incapacidade de construir "verdadeiras" personagens e "verdadeira" tensão dramática?

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