Chaplin sem Charlot

É o primeiro filme de Chaplin definitivamente sem Charlot e sem a sua sombra ou as suas marcas residuais. O bigode (e voltamos aos bigodes) não é postiço, como o criado para Charlot (e imitado por Hitler?), mas deixado crescer para conformar a personagem a uma aparência de Landru, o célebre assassino francês do passado.

A ideia original parece ter sido de Orson Welles, que chegou a afirmar ter escrito o "script", o que é improvável. Muito amado pela crítica "terrorista" dos Cahiers du Cinéma, o filme sofreu inúmeros ataques da censura e dos meios conservadores americanos, em época de "maccarthysta" caça à bruxas.

Comédia negra, em que os "gags" são substituídos por diálogos elegantes e uma "découpage" quase perfeita, não renega um vertente de crítica acerba à sociedade capitalista, ligando o assassínio, como arte, ao uso da guerra como exterminação em massa, argumento muito caro aos anos do imediato pós-guerra: uma morte faz um vilão, milhões um herói. Complexo, mas desequilibrado, sem a perfeita organização da sua obra anterior e exposto a argumentos extra-estéticos, o filme funcionou como a gota de água para a "expulsão", dos EUA, do "vermelho" Chaplin que, ainda por cima, sempre permanecera cidadão britânico.

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