Autobiografia de Bill Clinton lançada hoje nos EUA

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Clinton numa das muitas entrevistas que tem dado e vai dar para falar de "My Life" David M. Russell/CBS/AP

Bill Clinton diz que Arafat não conseguiu "dar o salto" para a paz, criticou o "timing" da guerra contra o Iraque mas garantiu que votaria a favor de uma intervenção no país. Estes episódios foram contados na entrevista ontem publicada pelo diário britânico "The Guardian", antecipando o lançamento de "My Life", a autobiografia que vai ser hoje lançada nos Estados Unidos e que recolocou Clinton sob os holofotes dos "media", com iniciativas desde grandes entrevistas a sessões de autógrafos em 40 estados e, a cereja no topo do bolo, uma festa que se espera cheia de estrelas no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque.

A entrevista com o "Guardian" começa por abordar o processo de paz israelo-palestiniano, revisitando momentos como o do aperto de mão entre Arafat e Rabin em 1993 - e pormenores sobre como os assessores se esforçaram por convencer Arafat a não levar uma pistola e para dispor tudo de modo a evitar que o líder palestiniano beijasse o primeiro-ministro israelita.

Ao recordar o episódio nos antípodas daquele dia histórico, as conversações de Camp David (2000), o antigo presidente culpa Yasser Arafat pelo falhanço. O líder palestiniano "não conseguiu dar o salto final de revolucionário para homem de Estado". Recorda o telefonema que recebeu de Arafat mesmo antes de deixar o cargo, em que o líder palestiniano o elogiou como sendo um "grande homem". Clinton diz que respondeu: "Sr. Presidente, eu não sou um grande homem, sou um falhanço, e feito por si."

Mesmo assim, o antigo Presidente discorda da estratégia do seu sucessor, dizendo que Arafat "é demasiado esperto" para se deixar ultrapassar por um primeiro-ministro.

Seguindo para o Iraque, Clinton recorda, no livro, como colocou como as prioridades de segurança o Iraque penas em quinto lugar, depois da Al-Qaeda, do conflito israelo-palestiniano, da tensão nuclear entre a Índia e o Paquistão e do apoio de Islamabad a Bin Laden e da Coreia do Norte. Mas a posição de Clinton quanto à guerra tem "nuances". Embora discorde do "timing" escolhido, o antigo presidente diz ao "Guardian" que se fosse senador teria votado para dar [ao Presidente Bush] a autoridade para atacar o Iraque porque Saddam Hussein, no passado, nunca tinha feito nada que não fosse forçado a fazer. E naquele contexto pós-11 de Setembro achava que era imperativo descobrir o que ele tinha". Mesmo assim, quem devia ter ficado com esta tarefa seriam as Nações Unidas.

Em relação a políticos britânicos, Clinton falou com apreço do seu amigo Tony Blair e tentou defender o primeiro-ministro britânico, dizendo ser injusta a percepção de que segue cegamente George W. Bush. "Tony tem sido favorável o tribunal penal internacional, ao protocolo de Quioto... Pelo que sei, nunca abraçou a nova política nuclear desenvolvida pelo Presidente Bush. Por isso, não acho que seja justo ver toda a sua política externa através da óptica do Iraque".

O conselho de Mandela sobre o "caso Lewinsky"

Tema obrigatório, o caso com Monica Lewinski. Clinton diz que dormiu meses no sofá depois de revelar a verdade à mulher e filha, culpa a direita que quis usar a sua intimidade para lhe tirar o cargo, e revela uma pessoa que o ajudou a enfrentar a crise: Nelson Mandela. "Ele disse-me que tinha perdoado os seus opressores", conta Clinton. "Ele tiraram-me tudo menos a minha mente e o meu coração. Eu teria de desistir disso, e eu decidi não desistir", terá dito Mandela, para aconselhar de seguida Clinton a fazer o mesmo. "Se não formos capazes de esquecer, isso vai continua a devorar-nos."


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