Jornal catalão afirma ter sido pressionado pelo Governo espanhol para manter pista da ETA

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As denúncias de censura e abuso de influência aumentam sobre o Governo de Aznar Paul White/AP

O diário catalão "El Periodico" juntou-se a vários outros meios de comunicação social para reconhecer ter sido pressionado pelo Governo espanhol para manter a pista da ETA no caso dos atentados terroristas de 11 de Março em Madrid. As insinuações de censura e abuso de influência aumentam sobre o Governo cessante de José María Aznar.

O diário catalão "El Periodico" afirma que o próprio primeiro-ministro cessante José María Aznar ligou ao seu editor duas vezes para o convencer de que era a ETA que estava por trás dos ataques na capital espanhola e não qualquer grupo radical islâmico.

Aznar "alertou-me com cortesia para não me deixar cair em erro. A ETA era a responsável", disse Antonio Franco, editor do jornal.

Esta é a última acusação do género proveniente da comunicação social espanhola sobre a influência do Governo na cobertura mediática dos acontecimentos que causaram mais de 200 mortos e mais de mil feridos. O diário "El País" já se tinha queixado do mesmo, afirmando ter recebido várias chamadas de Aznar, enquanto o comité de empresa da agência estatal EFE acusou o director de informação de exercer censura sobre informações cruciais e exigiu a sua demissão.

O eleito primeiro-ministro Jose Luis Rodríguez Zapatero tem-se queixado da falta de imparcialidade dos média estatais e já prometeu introduzir alterações na TVE. A estação pública limitou-se a dar 50 segundos da manifestação de milhares de pessoas em frente à sede do PP, um dia antes das legislativas, que exigiam saber "toda a verdade" sobre os atentados de 11 de Março. Zapatero disse mesmo que uma das suas maiores preocupações é a nomeação de um director-geral "independente" para a RTVE, empresa proprietária da televisão pública.

A acrescentar ao facto de ter ignorado a manifestação junto à sede do PP, a TVE exibiu, sem aviso prévio e na vez de um programa de entretenimento, um documentário sobre o assassinato pela ETA, em Fevereiro de 2000, do deputado socialista Fernando Buesa, o que de imediato motivou o protesto da Fundação Buesa, presidida pela viúva da vítima. Em comunicado, esta acusou a estação pública de "utilizar a memória das vítimas do terrorismo com fins eleitorais". O mesmo documentário tinha sido exibido na véspera pela cadeia local TeleMadrid.

Só após a derrota do PP de Aznar nas eleições de domingo — e de eventos que aumentam a probabilidade da pista radical islâmica — é que os média saíram a público para dar conta das pressões.

Aznar já se defendeu em conferência de imprensa, garantindo que o que fez foi apenas esclarecer os média sobre o ponto de vista do Governo.

A rádio privada Cadena Ser chegou a dar informações importantes, como aquela que referia a existência de uma circular assinada pela chefe da diplomacia espanhola, Ana Palacio, pedindo aos embaixadores de Madrid no estrangeiro para manterem a pista da ETA e afirmarem-na publicamente. Nenhum "site" online dos jornais espanhóis pegou no assunto.

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