"Diário de Lisboa" disponível em formato digital

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A Fundação Mário Soares digitalizou integralmente as edições do "Diário de Lisboa", que se publicou entre 1921 e 1990, estando já disponível para consulta o período desde a primeira edição até 1970. Até Abril ficará disponível o resto da colecção, que está digitalizada mas ainda se encontra em fase de controlo de qualidade da imagem.

O projecto foi apresentado ontem ao fim da tarde em Lisboa, no auditório da Fundação, com intervenções do ex-Presidente da República Mário Soares, de Mário Mesquita, professor universitário e último director "Diário de Lisboa", e de Ruella Ramos, da família proprietária.

A consulta pode ser feita por qualquer pessoa na biblioteca da Fundação, onde os terminais de computador têm acesso à base de dados, que por enquanto permite consulta apenas por data. Quando se abre o ficheiro com uma determinada edição, as páginas são visualizadas no seu aspecto original, podendo-se ampliar e reduzir a sua apresentação no ecrã, e "folhear" o jornal electronicamente. Estão a ser feitas experiências com vista à eventual disponibilização da consulta através da Internet, disse ao PÚBLICO o administrador do Arquivo e Biblioteca da Fundação, Alfredo Caldeira.

A opção pela digitalização do "Diário de Lisboa" tem a ver com ter sido "um jornal mais ou menos intelectual e político, que por exemplo teve sempre um suplemento literário". "Para nós tem muito interesse porque temos um arquivo do século XX e ele cobre quase todo este período", explicou o mesmo responsável.

O facto de terem recebido a colecção completa da família Ruella Ramos permitiu avançar com o projecto. Por outro lado, o "DL" "tinha ainda a vantagem de ter um tamanho de páginas menor" que a dos outros jornais do seu tempo. "Dava para cobrir uma série de acontecimentos e era multifacetado do ponto de vista da pesquisa", diz ainda Alfredo Caldeira.

Conhecido como tendo sido durante a maior parte da sua vida um jornal de esquerda foi também "construído em grande parte por jornalistas relativamente importantes e autónomos", o que interessava à Fundação. Foram digitalizadas cerca de 800 mil páginas e o trabalho deverá estar concluído perto de ano e meio após o seu começo. O Programa Operacional Sociedade da Informação (POSI) apoiou o projecto, o que facilitou a sua viabilização.

A digitalização de periódicos do século passado não se fica pelo "Diário de Lisboa". A Fundação Mário Soares tem disponível para consulta (nos mesmos moldes que o "Diário de Lisboa") "O Diabo", um jornal que se publicou entre 1934 e 1940, com ligações aos intelectuais neo-realistas da época. Está também previsto que seja digitalizado o jornal "Sol Nascente", "quinzenário cultural de literatura e crítica" dos anos 30, ligado a intelectuais da oposição ao regime do Estado Novo, este em colaboração com o Seminário Livre de História das Ideias, um instituto da Universidade Nova de Lisboa. E ainda a revista "Alma Nacional", que se publicou em 1910 para justificação ideológica do republicanismo e do anticlericalismo.

Alfredo Caldeira defende que as principais bibliotecas e arquivos do país deveriam colaborar no sentido de disponibilizarem complementarmente, em suporte digital, o conjunto das principais publicações periódicas: "Não faz sentido que outra instituição vá também digitalizar o 'Diário de Lisboa'."

Exposição de desenhos e caricaturas

A apresentação do projecto de digitalização do "Diário de Lisboa" decorreu em simultâneo com a inauguração de uma Exposição de Caricaturas de colaboradores do jornal, seleccionadas entre as publicadas no período que vai de 7 de Abril de 1921 (data da primeira edição do jornal) até 27 de Maio de 1926, véspera do golpe de estado militar que reimplantou a censura em Portugal.

Nesse período, o jornal publicou cerca de 1750 desenhos e caricaturas, de que até agora a Fundação apenas conseguiu identificar dois terços dos autores, pois muitas vezes não estão assinados. Este acervo foi editado em CD, intitulado "Desenhos e Caricaturas 1921-1926", contendo obras de artistas emblemáticos da época, como Amédeo Modigliani, Bernardo Marques, Eduardo Malta, Jean Cocteau, Jorge Barradas, José de Almada Negreiros, Leitão de Barros, Mário Eloy ou Stuart Carvalhaes.

O traço destes artistas plásticos do século XX "ilustra bem a crise económico-financeira que se seguiu à participação portuguesa na I Grande Guerra, a radicalização da agitação social e a permanente instabilidade político-militar", refere a Fundação Mário Soares.

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