Guterres: China é "importante" para o projecto da nova ordem mundial

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Guterres visitou a China em 1998 como primeiro-ministro Miguel Silva/PÚBLICO

O presidente da Internacional Socialista (IS), António Guterres, defendeu hoje que a China tem um papel "importante" na construção de uma nova ordem global.

"Em relação àquilo que é projecto de reforma global e sobre aquilo que pode ser uma nova ordem mundial, quer o projecto europeu quer a China têm um papel importante", disse Guterres durante uma intervenção na universidade de elite chinesa Beida, conforme relato do próprio à agência Lusa.

A visita a Pequim da delegação da IS chefiada pelo ex-primeiro-ministro português está a ser marcada pela aceitação dos dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) de estabelecerem um contacto permanente com a Internacional, com vista a criar consensos em áreas como a reforma das Nações Unidas.

"Está estabelecido um contacto permanente entre a IS e a China", concluiu Guterres, na recta final da sua visita a Pequim, que termina amanhã.

A IS e o PCC irão agora "desencadear uma série de acções" com vista à discussão e procura de consensos em dossiers como o desbloqueamento das negociações internacionais na área comercial e ambiental.

Os mecanismos de comunicação abertos entre a IS e a China permitirão também manter o diálogo em questões como os direitos humanos e a democracia.

A delegação da IS teve ontem um encontro com o Presidente chinês e com o secretário-geral do PCC, Hu Jintao, que assegurou a cooperação futura com a IS, prometendo que a China "colocará de lado as questões ideológicas".

Guterres considera que a abertura do PCC - que governa a China em regime de partido único desde 1949 - a um contacto com a IS é reforçada pelo facto de Pequim "apreciar muito" as posições da IS na questão "sagrada" de Taiwan.

"Um ponto de convergência muito relevante é o nosso apoio ao princípio 'um país, dois sistemas' e a nossa divergência em relação a qualquer alteração do 'status quo' de Taiwan que possa ser perturbadora", assinalou o presidente da IS, reconduzido a um segundo mandato em Outubro.

A fórmula "um país, dois sistemas", adoptada para Macau e Hong Kong e que garante um elevado grau de autonomia, foi concebida a pensar também na unificação entre o continente chinês e a ilha de Taiwan, separados após o final da guerra civil da China e a subida ao poder do PCC.

Após o encontro com o Presidente chinês, Guterres referiu à Lusa que "a China é um elemento incontornável" naquela que é a actual "prioridade" da IS ao nível da intervenção mundial, "a reforma do sistema global".

A IS criou nos últimos meses mecanismos de diálogo permanente semelhantes com o Partido Trabalhista brasileiro e o Partido Democrata dos Estados Unidos.

O ex-líder do Partido Socialista português deu conta de uma "larga convergência" de ideias entre a IS e o PCC no tocante aos grandes desafios da globalização.

A China, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e considerada um dos porta-vozes dos países em vias de desenvolvimento, defende uma ordem multilateral e uma maior democratização das instituições internacionais.

Guterres, que visitou a China em 1998 como primeiro-ministro, à frente de uma comitiva empresarial portuguesa, janta hoje com o conselheiro de Estado para as Relações Externas, Tang Jiaxuan, e participa num debate no canal de língua inglesa da televisão estatal chinesa (CCTV-9).

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