"A saída de Sena Santos foi a pior coisa que me aconteceu"

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Nunca há substitutos à altura para o Sena Santos, afirmou Luís Marinho sobre a demissão Pedro Cunha/PÚBLICO

Um ano depois de ter assumido a direcção de informação das três principais estações da RDP e da programação das antenas 1 e 3, Luís Marinho acha que os ouvintes associam agora mais a estação pública à informação. Quer reforçar a Antena 1 e considera que faz sentido uma rádio de serviço público para jovens, a Antena 3. O director comenta também o "caso" Sena Santos.

A saída de Sena Santos, que no final do ano passado deixou a RDP, foi, para Luís Marinho, director de informação da rádio pública, a pior notícia desde que iniciou funções. "Nunca há substitutos à altura para o Sena Santos", diz sobre a demissão, ainda mal explicada, do jornalista, contra o qual a administração apresentou queixa no Ministério Público por alegado uso abusivo do bom nome da estação.

Com as audiências dos principais canais da RDP a registarem alguma subida e a reestruturação quase feita, Luís Marinho, director de informação da Antena 1, Antena 2 e Antena 3, e de programação das antenas 1 e 3, descreve a primeira como "uma rádio onde a informação determina a programação sem, obviamente, esquecer a área de entretenimento", o que em seu entender a distingue quer da TSF que da Renascença.

PÚBLICO - As audiências do último trimestre foram simpáticas para a RDP, com subida das três antenas principais. A que se deve o crescimento?

Luís Marinho - Ao trabalho de reestruturação que começou há mais ou menos um ano. Definimos que a Antena 1 tinha que ser a locomotiva deste comboio de antenas. Na altura, a Antena 3 estava com mais audiência que a Antena 1 e agora é o contrário. Começamos a sentir que estamos a atingir alguns objectivos.

P. -Quais?

R.-A estação com mais audiência tinha que ser a Antena 1 e tinha que ser o espelho do serviço público. Decidimos também que era a informação que tinha que comandar a Antena 1. Não quer dizer transformá-la numa rádio de notícias, mas numa rádio onde a informação fosse determinante e a mais credível, e tivesse boa música, boa disposição.

P.- Que alterações fizeram na programação?

R. -Apostámos numa manhã e fim de tarde claramente informativos. A estação tinha uma manhã parecida com esta e depois era uma rádio de programa atrás de programa. Acabámos com essa lógica e impusemos uma filosofia de antena muito flexível: temos grandes períodos em que existe um animador e alguns pequenos programas que ele vai gerindo, como de manhã com o António Macedo. Criámos uma "play list" e constatámos que agora há uma variedade muito maior de músicas e artistas em antena e reforçámos a aposta na música portuguesa.

Queríamos ir buscar públicos novos, tornar a Antena 1 mais urbana. O que sentimos é que alguns desses objectivos estão a ser atingidos. Temos crescido muito, durante a manhã somos a terceira rádio em Lisboa a seguir à RFM e à Renascença. Somos a quinta rádio no Porto e a sexta em Lisboa. Crescemos muito nas classes A/B e no litoral centro. Nas faixas etárias crescemos no público 45/54 anos, quando a grande fatia estava acima dos 50. E estamos finalmente a crescer nos 35/44 anos, que era o nosso objectivo central.

P.- Apesar das mudanças, que áreas de crescimento ainda podem ser exploradas?

R.- A filosofia da semana está mais ou menos conquistada. Temos períodos que precisamos olhar com mais atenção, como o de almoço. E alterar algumas coisas no fim-de-semana. Aí temos uma rádio muito virada para o desporto, vamos "a todas". É uma mais-valia e enquadra-se no serviço público porque não nos podemos só cingir ao Benfica, Porto e Sporting. Há outras equipas e, sobretudo, há outras modalidades em que as rádios praticamente não pegam. Este mês vamos avançar com um projecto de informação e reportagem sobre desporto escolar ao fim-de-semana de manhã.

O que pretendemos agora é que a Antena 1 passe a ser uma referência a todos os níveis, pela qualidade e credibilidade da sua informação, pela isenção, pela música, pequenas rubricas e programas da noite. Para que as pessoas olhem para as rádios do grupo RDP como grandes referências.

P.- Mas a RDP não é uma rádio de referência?

R.- É uma rádio de referência, mas achamos que ainda tem falhas de qualidade e essa é a batalha deste ano. Queremos que a Antena 1 seja inatacável, com um português correcto, vozes credíveis, notícias bem feitas, música e programas de qualidade. Isso é uma batalha de todos os dias; não podemos ter aqui excelentes vozes a dizer disparates.

P. - Com a reestruturação, a informação regional diminuiu.

R.- Não. Aumentou. Mas diminuímos as horas em que a rádio tinha desdobramento. Havia quatro horas (10h/12h e 18h/20h) em que esta rádio eram quatro, o que para uma estação nacional não faz sentido. Agora temos apenas uma hora de desdobramento (13h/14h) para emissões regionais só viradas para aquela informação que dificilmente daríamos em antena nacional. Fazem debates, entrevistas e até têm programas interactivos com os ouvintes.

P.- A rádio está condenada a ser ouvida de manhã e ao fim da tarde, no carro?

R.- Não só, mas um grande sector do público está nos carros. E daí haver uma atenção especial ao trânsito. A rádio é uma companhia e um indicador para o ouvinte e quando ele percebe que foi útil estar a ouvir, é natural que à tarde ou no dia seguinte volte.

P.- As diferenças em relação à TSF não são grandes em algumas horas.

R. - São. O perfil da TSF é o de uma rádio de informação, de notícias. Somos uma rádio generalista mas com perfil informativo, isto é, a informação é determinante. Quando há dúvidas é a informação que prevalece. Mas não estamos subjugados a essa necessidade e a essa obrigação. Uma coisa é a informação comandar, outra é estarmos vocacionados 24 horas por dia só para ela. Temos espaços de animação e outros só para notícias.

P.-A Antena 1 quer ser a rádio mais completa?

R.- A Antena 1 é uma rádio mais completa que a TSF. Existem duas rádios verdadeiramente generalistas em Portugal: a Antena 1 e o canal 1 da Renascença. São as mais complicadas de fazer, mas são as mais completas. O canal 1 da Renascença definiu o seu novo perfil como uma rádio de entretenimento que também tem notícias. Nós decidimos um pouco o contrário: somos uma rádio onde a informação determina a própria programação sem, obviamente, esquecer a área de entretenimento. A TSF choca connosco porque temos uma componente informativa bastante forte. Pelos estudos que fizemos as pessoas já nos referenciam muito como uma rádio que dá informação. Vamos fazer agora outro, bem maior.

P.- Pensa fazer mais ajustamentos às grelhas?

R.- É provável que sim, depende do que esse estudo nos der. Na Antena 2 fizeram-se há alguns meses e achamos que tem o perfil certo, que rejuvenesceu. Quanto à Antena 3, vale a pena olhar para ela com mais atenção, sobretudo depois do novo estudo estratégico, mas as alterações serão menos significativas. O seu perfil está reencontrado, não temos que mudar só por mudar. As alterações na rádio são muito mais lentas. Dificilmente haverá um Big Brother na rádio, ou seja, um programa que num mês mude o panorama.

P. - O serviço público pode e deve continuar a ter uma rádio para jovens?

R.- Tem-se provado que sim. Tem que crescer em determinadas zonas mas a concorrência nas rádios de jovens e de música é absolutamente feroz.

P. - A RDP tem tido muita exposição ultimamente, com campanhas de marketing.


R.- Por mais qualidade que demos à Antena 1, temos que puxar novos públicos. As antenas da RDP têm uma dificuldade de marca. As pessoas falam da RDP e da Antena 1, muitas não sabem que a RDP é a Antena 1 nem que a Antena 3 é da RDP. É uma confusão, coisa que não acontece com os nossos concorrentes.


P. - Quantas pessoas tem a RDP?

No grupo inteiro [que inclui também a RDP Internacional, RDP África] são 900. Afectos às direcções de programas e de informação serão menos de metade.

P. - Ainda há cortes a fazer?

Haverá alguns, não muitos. É preciso conjugar saídas com as necessidades de reforço. Por minha vontade, as pessoas de que preciso já cá estavam todas, mas também percebo que é necessário um pouco mais de paciência.

P. - A questão Sena Santos é incontornável. O que é que aconteceu exactamente?

A única coisa que digo sobre o Francisco Sena Santos é só isto: a sua saída foi a pior notícia, foi a pior coisa que me aconteceu desde que cá estou. Lamento muito que ele tenha saído.

P. - Já há um substituto?

Nunca há substitutos à altura para o Sena Santos. Estamos a estudar hipóteses para arranjar uma solução para o Programa da Manhã, que terá que ter um perfil diferente porque ele era uma figura de referência e tinha o programa muito à volta dele. O Sena Santos é, de facto, o jornalista de rádio com maior notoriedade e também com uma qualidade incrível. Perdemos uma grande figura.

P. - Será uma opção interna?

Pode acontecer tudo. Será decidido este mês, muito rapidamente. Há muitas hipóteses, incluindo externas. A manhã é um espaço fundamental, onde se ganha ou se perde a rádio. Temos que ser ainda maiores de manhã. Não era à toa que ali estava o Sena Santos.

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