Coimbra 2003: futuro exige observatório das artes e cultura e pacto para a cidade

A criação de um observatório das artes e cultura e a celebração de um pacto cultural para a cidade foram hoje defendidas em Coimbra numa conferência sobre a primeira Capital Nacional da Cultura.

Na conferência, realizada um ano após a abertura oficial de Coimbra 2003 - Capital Nacional da Cultura (CCNC) e cerca de um mês depois do seu encerramento, o sociólogo Carlos Fortuna defendeu a criação de um observatório das artes e cultura urbana e o director da companhia teatral A Escola da Noite, António Augusto Barros, preconizou a necessidade de um pacto cultural para a cidade.

"Há capacidade e recursos mentais para fazer isto [o observatório]", sustentou Carlos Fortuna, ex-presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, durante a segunda parte do debate, que decorreu à tarde na Oficina Municipal do Teatro.

Segundo o pró-reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra, João Gouveia Monteiro, também o reitor, Fernando Seabra Santos, orador durante a manhã, introduzira uma proposta semelhante no período de debate que se seguiu às intervenções da primeira parte da conferência.

"O futuro de Coimbra passa também por uma indústria cultural forte e criativa", sublinhou João Gouveia Monteiro, ao frisar a importância da criação, a breve prazo, do referido observatório.

Intitulada "Coimbra 2003: E depois da Festa?" a conferência - organizada pelo Conselho da Cidade - foi marcada pelas ausências (justificadas) do presidente da Câmara, Carlos Encarnação (ausente no estrangeiro, mas que enviou uma comunicação lida no evento), do ministro da Cultura, Pedro Roseta, do deputado e ex-titular da pasta Manuel Maria Carrilho e do ensaísta Augusto M. Seabra.

António Augusto Barros, também coordenador do projecto Cena Lusófona, sustentou que no final da Coimbra 2003 "deveria ser evidente um pacto cultural, com um desígnio de cidade por objectivo", frisando que "só assim tinha sentido o investimento" da CCNC.

O repto de criação deste pacto - adiantou durante o debate - é dirigido às instituições e "acima de tudo ao Ministério da Cultura". "Se o Ministério da Cultura agora virar as costas a Coimbra e não se comprometer com um conjunto de coisas, então esteve a desperdiçar dinheiro, é como criar a sede e depois não dar de beber", frisou, ao realçar que este pacto seria determinante na estabilização das unidades de produção artísticas da cidade, na criação de um programa de reabilitação dos espaços e na gestão e programação cultural.

Em resposta, e ao intervir no debate a partir da assistência, a delegada regional da Cultura do Centro, Celeste Amaro, lançou o desafio para lhe serem apresentados os projectos (e respectivos custos) relativos ao observatório e ao pacto cultural.

O observatório, segundo Carlos Fortuna, seria "um instrumento muito importante para a definição da acção cultural, para saber onde intervir e obter mais resultados"

A existência de um "pacto de silêncio" em torno da Coimbra 2003, evitando as críticas ao evento, e uma certa "'macdonaldização' da programação, com a compra de produtos já feitos", foram algumas das críticas formuladas pelo sociólogo e docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Mas, na óptica do investigador do Centro de Estudos Sociais, a "grande crítica" a dirigir à Capital é a falta de uma avaliação do evento, com o estudo dos públicos.

O presidente da Coimbra 2003, Abílio Hernandez Cardoso, e o director do Teatro Académico de Gil Vicente, João Maria André, foram outros dos oradores na conferência, moderada por Maria de Lurdes Cravo (presidente do Conselho de Cidade) e João Paulo Dias (coordenador do Grupo da Cultura deste organismo).

O evento de hoje inseriu-se no projecto "Cidade, Cultura e Política(s)", dinamizado por este grupo.

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