Sampaio admite que missão da GNR no Iraque é de grande risco

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Nasiriyah é o destino do contingente português, que parte esta noite EPA/TV

O Presidente da República, Jorge Sampaio, reconheceu hoje que a missão da Guarda Nacional Republicana (GNR) no Iraque comporta maiores riscos do que anteriores operações em que participaram forças portuguesas e desejou as maiores felicidades a todos os elementos do contingente, que parte hoje para o território iraquiano.

Numa declaração "excepcional", por não comentar assuntos internos durante visitas ao estrangeiro — o chefe de Estado português está no Brasil —, Jorge Sampaio evitou comentar o atentado contra o quartel italiano em Nasiriyah, mas disse que a GNR vai enfrentar "uma situação de risco, porventura maior que noutros teatros" onde a GNR esteve envolvida, como no caso de Timor-Leste.
O contingente da GNR, composto por 128 militares e que parte esta noite para o Iraque, ficará em Nasiriyah, no Sul do país, sob comando italiano. A base italiana situada naquela cidade iraquiana foi palco hoje um atentado-suicida que fez pelo menos 22 mortos (15 italianos e sete iraquianos) e várias dezenas de feridos, segundo o último balanço.

"A GNR tem uma reputação nas actividades de policiamento, como as que desempenhou em Timor-Leste, que mereceram da comunidade internacional o maior apoio e elogio", afirmou o Presidente aos jornalistas.

Jorge Sampaio aludiu ainda às diferentes posições que manteve com o Governo sobre o conflito no Iraque, afirmando que foram encontradas "plataformas de cooperação e de entendimento que beneficiaram o relacionamento institucional" e deu a questão como "passada".

O Presidente sempre se mostrou contra uma intervenção militar no Iraque sem o aval da ONU, enquanto que o primeiro-ministro, Durão Barroso, apoiou a política norte-americana que culminou numa acção militar contra o regime de Bagdad, então liderado por Saddam Hussein.

No pós-guerra, o Executivo defendeu que Portugal deveria participar no esforço de estabilização do território iraquiano e a escolha acabou por recair numa missão da GNR (que não necessita de parecer prévio do Conselho Superior de Defesa Nacional, órgão presidido pelo Presidente) e não num contingente militar.

Bispo das Forças Armadas "inquieto" com segurança da GNR

Por seu lado, o bispo das Forças Armadas manifestou-se hoje em Fátima "inquieto" com a segurança dos militares da GNR que partem hoje para o Iraque, horas depois do atentado na cidade de Nasiriyah, onde vão ficar instalados.
Januário Torgal Ferreira revelou ter uma "profunda preocupação" com a segurança dos militares, garantindo que o seu "coração de bispo" está com as suas famílias.

Perante o aumento do risco que correm os efectivos da GNR, o bispo prometeu "fazer tudo para que eles regressem todos vivos", apelando à oração dos portugueses pelos militares no Iraque.

"O Governo assumiu uma decisão que toca homens e mulheres de Portugal", que "deixam famílias" para suportar a política portuguesa no contexto internacional, considerou o bispo, lamentando a conjuntura em que esta viagem sucede.

O bispo teria preferido que a partida de militares da GNR tivesse "maior unanimidade" e não fosse somente uma forma de conjugar as posições do Governo e da Presidência da República.

"A partir, deveriam partir militares das Forças Armadas e não da GNR", considerou o prelado, que responsabiliza os Estados Unidos pela crise existente no Iraque. "Os americanos conduziram esta guerra de forma desastrosa sem pensar na paz", acusou.

No terreno existe um "complexo de tensões culturais, etnias e fanatismos religiosos" que dificultam a actuação de qualquer força da ordem internacional, considerou também o bispo, lamentando que o conflito não tenha sido antecedido por uma "reflexão mais séria dos americanos" que não intervieram em "Timor-Leste ou no Chile".

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