Efeito artificial

Os filmes de Robert Benton são, sobretudo, filmes de interpretação: pense-se em "Kramer Contra Kramer", mas também numa das suas últimas realizações, "Nobody's Fool" (1994), despretensioso retrato da "middle America" sustentado por um óptimo Paul Newman.

"Culpa Humana", que adapta o romance homónimo de Philip Roth, é um melodrama que tem como pano de fundo o racismo, o amor em idade madura e a mentira, o que será, porventura, um programa demasiado ambicioso para o esforçado mas desinspirado Benton (a sua vontade de abarcar tudo evidencia limitações narrativas). Restam-nos, então, os actores. Anthony Hopkins é um professor de Literatura Clássica que se demite da universidade depois de ser acusado de racismo, notícia que será fatal para a sua mulher. Na vertigem da perda, inicia um romance com uma mulher 30 anos mais nova (Nicole Kidman), reencontrando o prazer da vida e do sexo. É uma relação assaltada pela dúvida e ensombrado pela tragédia: com um historal de vício e violência, Kidman mede misérias com Hopkins. O efeito é artificial, a relação entre os dois nunca chega a ser convincente: Hopkins é correcto, no seu registo shakesperiano, Kidman, com novo visual e novos acessórios (tatuagens, depois do nariz de "As Horas"), compõe uma nova máscara de sofrimento mas o que se vê são os seus esforços para mergulhar na personagem.

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