Maria da Conceição Mendes Horta, a quem os seus seguidores chamavam Santa da Ladeira do Pinheiro, morreu esta madrugada, no Hospital de Torres Novas, vítima de paragem respiratória.

Maria da Conceição, que contava 72 anos, afirmava ter visões de Nossa Senhora desde os anos 60 e conseguiu reunir várias centenas de fiéis, que contribuíram para a construção de uma catedral na Meia-Via, Torres Novas. A catedral, inaugurada no ano 2000 e de grandes dimensões, reúne ícones ortodoxos com símbolos católicos.

Este culto nunca foi reconhecido pela Igreja Católica nem por qualquer outra religião ecuménica, mas apenas por um ramo menor da Igreja Ortodoxa polaca.

No entanto, há cerca de duas semanas, representantes do grupo dissidente da Igreja Ortodoxa polaca anunciaram a excomunhão de Maria da Conceição e desvincularam-se de qualquer ligação oficial a este culto.

Considerada pelos fiéis como uma vidente, Maria da Conceição protagonizou, durante décadas, um fenómeno religioso que atraía à Ladeira do Pinheiro, junto ao Entroncamento, uma vez por mês, crentes de países tão distantes como o Canadá ou as ilhas Martinica.

Filha de um abegão de Riachos (Torres Novas), Maria da Conceição contou que a sua primeira visão aconteceu nos anos 60, quando, doente com leucemia, viu na capela do Hospital da Misericórdia, na Golegã, uma imagem do Senhor dos Passos a mexer e ficou curada.

A Santa da Ladeira do Pinheiro foi, a partir dessa data, formando um grupo religioso que nos últimos anos chegava a reunir milhares de pessoas na catedral que mandou construir.

A antropóloga Teresa Perdigão, que fez um estudo sobre este caso, revelou ao PÚBLICO, em Outubro de 1992, que "a Igreja Católica sugeriu que a vidente fosse internada em 1967", tendo mesmo o arcebispo de Mitilene endereçado uma carta sobre o assunto ao ministro da Saúde da época.

A estudiosa realçava ainda que os seus crentes chamavam-lhe "mãe", "irmã" ou "santa", enquanto os inimigos a descreviam como "bruxa".

A peregrinação à Ladeira do Pinheiro tinha lugar no primeiro domingo de cada mês. Vendiam-se velas e santinhos, enquanto os fiéis entoavam cânticos e alguns, de joelhos ou a rastejar, cumpriam promessas, entoando cânticos à Virgem Maria e ao Espírito Santo.