Uma obra espontânea

Vindo da área do cinema independente americano, é desde já uma das descobertas do Verão. É a primeira longa-metragem de Peter Sollett, que antes fizera a curta "Five Feet High and Rising" (2000). É aí que encontramos já a personagem principal de "O Verão...", em relação ao qual "Five Feet..." funciona como esboço.

A ideia inicial do realizador era fazer um retrato autobiográfico da sua adolescência em Brooklyn, mas os miúdos que apareceram para o "casting" eram de ascendência latina: perdeu-se o ângulo autobiográfico e a acção foi transposta para a Lower East Side de Manhattan, mas a curta foi um sucesso de crítica. Dela nasceu "O Verão...", cujo argumento foi sendo escrito à medida que Sollett ia passando tempo com os "actores", estabelecendo com eles relações de amizade e incorporando as mudanças que ocorriam nas suas vidas. Esta procura de realismo reflecte-se no resultado, uma obra espontânea, pela improvisação do notável elenco, e pelo estilo quase documental, com a câmara colada às personagens. Mais um exemplo da escola de Larry Clark (até porque também aqui os pais estão ausentes), outra visão apocalíptica da turbulência adolescente? Nada de mais errado: apenas um olhar cândido sobre "kids" a braços com os empecilhos do crescimento e os primeiros fogachos de desejo. Mas o filme não se cinge ao universo juvenil: introduz a figura essencial da Avó, mãe e pai na família, mas incapaz de lidar com as hormonas em descontrolo dos netos. Por essa relação conturbada passa o desejo de mostrar o quotidiano de uma família, que é onde reside muito do fascínio desta pequena delícia de delicadeza.

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