Unidade de sentido

O "estado das coisas" em 1981 continua a ser o "estado das coisas" em 2003? Difícil dizer, embora a filmografia posterior de Wenders (sobretudo, a mais recente) funcione como uma ironia em relação às questões que colocava então - a desconfiança em relação à narrativa e a nostalgia (contraditória?) de um cinema clássico americano capaz de expressar uma unidade de sentido do mundo.

É um filme em que Wenders exorcisa a sua experiência americana com "Hammett", é um filme sobre a espera (a parte europeia, com a interrupção das filmagens) que serve como metáfora do "statu quo" do cinema, em plena crise narrativa e perda de rumo. É, mesmo, um filme sobre a morte do cinema (que é a sublime sequência em L.A., senão um "travelling" por fantasmas do cinema americano?) e sobre a impossibilidade de continuar. E há algo que parece evidenciar-se neste filme que olha para a América com fascínio, "à espera de Gordon" (o produtor americano de quem depende a continuação da rodagem): que o cinema europeu não foi capaz de constituir-se como território mítico.

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