Jekyll e Hyde

Com mais contundência (porque aqui se raia a abstracção) do que em "Recursos Humanos", "O Emprego do Tempo" prova com clareza o talento de Laurent Cantet.

A sua personagem principal, aquela espécie de mitómano envergonhado que descobre de repente que "nous sommes tous des proletaires", dificilmente encontrará par nalgum filme visto nos últimos tempos. É uma espécie de criatura que se faz auto-criador, simultaneamente doutor e monstro de Frankenstein, Jekyll e Hyde em voluntária sobreposição de personalidades. E o segredo do filme é que quanto mais avança mais esta dimensão alucinada se vai impondo, como se fosse um filme de Hitchcock - a máscara vai ter que cair, mas quando e como? Resta dizer o óbvio: que nunca ninguém filmou assim aquilo a que, outrora, se chamaria uma "temática social".

Sugerir correcção
Comentar