Filme frágil e exposto

João Botelho é dos cineastas portugueses que melhor organiza um discurso crítico sobre a pequenez deste portugalzinho à beira-mar plantado: "Aqui na Terra" assestava dardos (e tesouras) sobre o cavaquismo; "Tráfico" revisitava a choldra nacional de queirosiana memória. "A Mulher que Acreditava..." encena um semelhante registo de farsa, mas fica-se sobretudo pela nossa apagada e vil tristeza.

Sátira infalível? Não, antes pelo contrário, trata-se de um filme frágil e exposto, fácil de destruir e (ou) ridicularizar. Há faltas de ritmo, algumas rábulas individuais que precisariam de melhor articulação entre si. E, no entanto, existe por detrás do esgar das caricaturas uma comovente tensão, um enorme amor pelas actrizes que se colam aos seus bonecos de forma precária. Quem procura uma comédia profisssionalmente sofisticada e limpa, desiluda-se. Estes EUA de trazer cá por casa apostam no risco de apenas nos fazer sorrir, na imperfeição da imagem gritante da nossa impotência.

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