Ao todo são 25 os jornalistas da NTV que já não se apresentarão ao serviço na próxima segunda-feira. Numa reunião que decorreu ontem à tarde, a administração da RTP comunicou-lhes que os seus contratos de trabalho de seis meses, que terminam amanhã, não serão renovados.

A redacção do canal deverá sofrer uma redução de cerca de 70 por cento dos seus profissionais, pelo que a continuidade de alguns programas de informação poderá mesmo ficar em risco.

Para além de ter comunicado que os 25 jornalistas não se manterão no canal, Luís Marques, administrador da RTP com a tutela da NTV, não deu grandes novidades aos trabalhadores. Uma fonte da estação contactada pelo PÚBLICO referiu que durante a reunião - na qual foi apenas autorizada a participação de um representante de cada sector editorial do canal - Luís Marques não deu resposta quando questionado acerca das emissões futuras da NTV. Por esclarecer ficou também se a RTP continua interessada em transformar a NTV no Canal Regiões, como o ministro da tutela, Nuno Morais Sarmento, anunciou em Dezembro passado.

Com esta sangria de jornalistas, a grelha do canal terá que ser forçosamente reajustada, mas os trabalhadores não receberam qualquer informação a este respeito. "Não se sabe o que vai acontecer à informação. Na prática, ficam apenas 17 jornalistas, que não deverão conseguir garantir a informação nos moldes actuais. Os jornais de desporto, por exemplo, não estão sequer assegurados, uma vez que há quatro jornalistas que vão embora", adiantou a mesma fonte. Outro exemplo: o programa Treinadores de Bancada, emitido diariamente, poderá já não ir para o ar na próxima segunda-feira, uma vez que o jornalista responsável integra o lote dos 25 jornalistas dispensados.

Durante a reunião de ontem, Luís Marques terá informado que alguns dos trabalhadores agora dispensados poderão vir a ser "repescados" até 15 de Abril. "Estão apenas a tentar iludir as pessoas e a dar-lhes falsas esperanças", acredita a fonte contactada pelo PÚBLICO, que não hesita em afirmar que o afastamento dos 25 jornalistas significará "a morte do projecto".

A reunião de ontem fora pedida pelos trabalhadores há uma semana com o intuito de serem esclarecidos sobre o seu futuro e o da estação. Os jornalistas agora dispensados estavam a cumprir o seu terceiro contrato a prazo de seis meses e a renovação implicaria a sua passagem para o quadro da empresa.

O administrador da RTP confirmou ainda que a estação pública já recebeu duas propostas de aquisição da NTV, ambas desconsideradas por não serem projectos "credíveis". Até ao próximo dia 14 deste mês, adiantou, a RTP continua disponível para receber mais propostas de compra do canal por cabo.

Entretanto, o presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes, reafirmou ontem a sua "total disponibilidade" para dinamizar todas as iniciativas que permitam a viabilização da NTV ou, se tal não for possível, a criação de um novo canal regional de TV no Norte. "Sei que neste momento estão a ser discutidas várias alternativas e mantenho a minha disponibilidade em servir como interlocutor empenhado na viabilização de um canal regional de televisão no Norte", afirmou o autarca, citado pela Lusa.

O grupo de quatro produtoras que tentaram, sem sucesso, adquirir a NTV à RTP está agora a desenvolver um projecto para a criação de um canal de cariz nortenho juntamente com empresários - representados pela Associação Comercial do Porto - e as três universidades da cidade, estando já o financiamento assegurado pelo Banco de Investimento Global.

À hora de fecho desta edição ainda decorria uma reunião que juntou à mesma mesa o administrador Luís Marques, o presidente do conselho de administração da RTP Almerindo Marques, Carlos Daniel, responsável do Centro de Produção do Porto da estação pública, e os directores de informação e programação da NTV, Dinis Sottomayor e José Alberto Lemos. Deste encontro deverão ter saído algumas orientações sobre o futuro da estação por cabo.