Retrato de uma juventude desintegrada

Bastaria a menção de "L.A.Confidential" (1997) ou "Wonder Boys" (2000) para fazer de qualquer novo filme assinado pelo imaginativo Curtis Hanson um acontecimento a ter em devida conta.

"8 Mile", tendo por base argumental um pouco apelativo confronto de "rappers", não desmerece: não só revela o inesperado talento interpretativo de Eminem, como incorpora a sua personagem numa nobre linhagem de "rebeldes sem causa", de Jimmy Dean a Marlon Brando. Não, não estamos com delírios cinéfilos. Há mesmo no filme aquele sopro lírico, que animava o filme de Nicholas Ray, e raras vezes, no cinema americano contemporâneo, se conseguiu tão complexo retrato de uma juventude desintegrada. E existem outras pequenas maravilhas: Kim Basinger numa mãe precocemente envelhecida, um belíssimo olhar sobre os subúrbios pobres e sobre as contradições do "white trash", um sentido do "timing" e do enquadramento a confirmar Hanson como um dos autores (raros) que restam no "mainstream" americano.

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