Televisões contestam audiências

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Os três canais generalistas e a TV Cabo juntaram-se para questionar a descida do consumo de televisão, com reflexos na quebra da publicidade DR

RTP, SIC, TVI e TV Cabo aliaram-se, pela primeira vez, para contestar a medição das audiências. Em causa está uma alegada descida anormal do consumo de televisão em Portugal que os canais alegam contrariar a tendência europeia.

A empresa que mede as audiências, Marktest Audimetria, apenas admite uma quebra de sete minutos no tempo diário gasto a ver televisão e considera que "o mercado anda nervoso com a crise".

As três estações e a TV Cabo argumentam que o consumo de televisão em Portugal baixou 15 por cento, nos últimos três anos, uma quebra que estranham face à tendência europeia, sobretudo em relação ao mercado espanhol considerado semelhante ao português. Esta é a principal questão de um documento subscrito pelos quatro operadores, em que estes se recusam a avançar com o previsto alargamento do painel de lares onde as audiências são medidas, antes de verem esclarecidas todas as dúvidas.

O texto foi ontem entregue à Comissão de Análise de Estudos de Mercado (CAEM), um órgão regulador onde estão representadas as televisões e os anunciantes, que o enviará à empresa que mede as audiências para obter respostas aos pedidos de esclarecimento.

"Estão a desaparecer pessoas do nosso auditório. Queremos que o investimento dos nossos anunciantes seja melhor medido", afirma Raul Azevedo, director de marketing da SIC. O responsável sublinha que "não está em causa a idoneidade da" Marktest Audimetria, mas refere que o facto de ser "a mesma empresa que põe os audímetros, mede, trata os dados com o seu "software" e envia os dados às televisões, é um caso único na Europa".

O director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, reconhece que esta quebra do consumo televisivo traz "profundos prejuízos às televisões" e que "estranhamente não acompanha uma tendência europeia". Miguel Paes do Amaral, presidente do grupo Media Capital, que detém a TVI, disse recentemente (PÚBLIC0, 26/09/2002) que este decréscimo levou ao desaparecimento de 50 milhões de euros do mercado publicitário. Paes do Amaral considerou esta variação negativa anormal, na medida em que nos últimos anos se verificou um crescimento do cabo e o relançamento da TVI.

Contactado pelo PÚBLICO, Luís Queirós, presidente da Marktest Audimetria, contesta esta visão dos números, argumentando com uma questão técnica, e diz que "o mercado anda nervoso com a crise".

A explicação da Marktest para a descida do consumo tem a ver com a alteração de um critério na medição das audiências. Até 2001, os lares cujos residentes estavam de férias não eram contabilizados no sistema durante esse período e, a partir desse ano, passaram a contar para o total, mas com o valor "zero", já que os audímetros estavam desligados.

Ou seja, se por exemplo, até 2001, 20 por cento dos lares estivessem excluídos por ausência prolongada dos seus residentes, as audiências só eram medidas nos restantes 80 por cento.

Desde 2001 que esses 20 por cento também se tornaram parte do sistema de medição, mas apresentavam "zero" de visionamento, o que provocou uma descida dos números do consumo.

Esta alteração de critério feita pela Marktest Audimetria - seguindo uma recomendação da CAEM - não permite, segundo a empresa, a comparação do consumo com anos anteriores a 2001. Por isso, a Marktest apenas analisa o primeiro semestre de 2001 e o mesmo período de 2002 e conclui que os portugueses apenas viram menos sete minutos de televisão por dia, num total de 195 minutos. "Esta variação não tem um grande significado e, na verdade, pode até não existir uma diminuição em 2002, mas antes um acréscimo excepcional em 2001, por razões ainda não apuradas", segundo um comunicado emitido pela empresa, na semana passada.

Outra das explicações dadas informalmente pela empresa para a descida do consumo de televisão está relacionada com a meteorologia. Segundo a Marktest Audimetria, a subida da temperatura verificada nos últimos anos contribui para que as pessoas saiam mais de casa e vejam menos televisão.

Os operadores não têm ficado satisfeitos com estas justificações da Marktest Audimetria e decidiram pedir esclarecimentos a título formal, no âmbito de actuação da CAEM.

A contestação à medição das audiências vem de longe, mas é a primeira vez que todas as televisões o fazem a uma só voz e é inédito que o movimento inclua os canais mais vistos como é o caso da SIC e da TVI. De vez em quando, vem a público o descontentamento de uma ou outra televisão ou por parte de uma associação face à audimetria que é feita em Portugal. Para apaziguar os ânimos, a CAEM encomendou há três anos uma auditoria a todo o sistema de medição de audiências, mas os resultados não revelaram qualquer irregularidade significativa. Esta questão do consumo de televisão, argumentam os operadores, não foi colocada na altura em que se realizou a auditoria.

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