"O Crime do Padre Amaro" estreia-se em Portugal a 15 de Novembro

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A campanha pelo boicote ao filme de Carrera foi a melhor publicidade que este podia receber DR

O polémico filme do realizador mexicano Carlos Carrera, “O Crime do Padre Amaro”, com base na obra homónima de Eça de Queirós, vai chegar a Portugal a 15 de Novembro, anunciou ontem a sua distribuidora, a Columbia Tristar.

A obra chegará a Portugal três meses depois de ter sido estreada no México e, apesar de ter sido objecto de uma acalorada polémica, tem sido um fabuloso sucesso de bilheteira — só nos primeiros 20 dias de exibição rendeu perto de 12 milhões de euros.

Com argumento de Vicente Leñero, a partir do primeiro grande romance de Eça, o filme conta a história de um jovem padre de uma aldeia mexicana que quebra os votos de celibato e se envolve com uma adolescente de 16 anos, ao mesmo tempo que recebe dinheiro de narcotraficantes.

De fortes contornos eróticos, cenas há que agitaram — como aconteceu com o clero português quando o livro veio a lume em 1875... — os meios eclesiásticos mexicanos: uma mulher alimenta o gato com hóstias abençoadas enquanto numa outra cena Amaro tira a capa que cobre a Virgem Maria para aquecer a sua amante.

A Igreja Católica, como outros sectores mais conservadores mexicanos, apelaram ao boicote ao filme (o que, aparentemente, não resultou), que foi visto pela primeira vez anteontem na Europa, na 50ª edição do Festival de Cinema de San Sebastian, em Espanha.

Parecer do ministério ainda por conhecer

Em Portugal, as reacções mais violentas vieram do presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), Luiz Francisco Rebello. O dramaturgo exigiu que o Governo, através do Ministério da Cultura (MC), deveria recorrer aos tribunais para tentar impedir a exibição do filme, considerando inaceitável a forma como a obra de Eça tinha sido adaptada.

A SPA queria que o MC intervisse ao abrigo do Código de Direito de Autor e dos Direitos Conexos, pois o Estado tem o dever de defender “a genuidade e integridade das obras caídas no domínio público” — ou seja, das obras de autores que faleceram há mais de 70 anos.

Em declarações à Lusa, o director do Gabinete de Direitos de Autor do MC, Nuno Gonçalves, afirmou que o Executivo deveria recorrer aos tribunais para accionar uma hipotética proibição da exibição do filme se os indícios invocados pela SPA fossem verificados.

Nuno Gonçalves adiantou que já existe um relatório — cujo conteúdo não quis revelar —, o qual está nas mãos da tutela. Aquele responsável considera que esta polémica suscita uma reflexão jurídica “muito interessante”. E artística: basta pensar na série que Paula Rego fez em torno de “O Crime do Padre Amaro”, em que as principais personagens do romance são igualmente apresentadas de forma subversiva e provocatória.

Entretanto, contactado pelo PÚBLICO, o director-geral da Inspecção Geral de Artes e Espectáculo (IGAE), Pedro Carlos Fernandes, disse ontem que “ainda não entrou no IGAE o pedido de licenciamento” necessário à exibição da obra.

Para que um filme possa ser exibido, o IGAE recebe a cópia da obra para efeitos de registo e autorização de distribuição.

O IGAE verifica que estão asseguradas e cumpridas as obrigações decorrentes dos direitos de autor e a atribuição de classificação etária, da responsabilidade da Comissão de Classificação dos Espectáculos — uma decisão que também não pôde ser ainda tomada.

Fonte da Columbia reafirmou ao PÚBLICO que o filme estrear-se-á a 15 de Novembro, mas não quis fazer qualquer comentário quanto ao pedido de licenciamento. “É um processo normal a todos os outros filmes que distribuímos.”

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