Helena Vaz da Silva, uma vida dedicada à cultura e comunicação

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Manuel Moura/Lusa

Cultura, comunicação, jornalismo, política. Estas e outras áreas vão ficar marcadas pela passagem de Helena Vaz da Silva, uma mulher enérgica, criativa e fiel às suas convicções, cujo trabalho mostra mais conquistas que perdas, prova da entrega total a tudo o que fazia na vida, afirma quem a conheceu.

Helena Vaz da Silva, nascida a 3 de Julho de 1939 numa casa situada na calçada do Combro, em Lisboa, foi jornalista, fundadora de revistas, presidente do Conselho Nacional de Cultura, deputada europeia independente pelo Partido Social Democrata, presidente da Comissão Nacional da Unesco e membro fundador da Fundação Cidade de Lisboa.

Aos seis anos falava três línguas e recitava o cancioneiro de cor. Boa aluna, bem comportada, acaba o 7º ano no colégio "As Oblatas". Aos 17 anos, sente uma necessidade definir percursos de vida, encontrar o seu rumo, e coloca um anúncio no jornal: "Sei tudo, faço tudo, aceitam-se propostas a partir de...".

Recebe muitas propostas. Pedem-lhe para reconstruir fragmentadas árvores genealógicas, sugerem-lhe trabalhos de pesquisa nos mais variados sectores.

Mas, por um acaso, acaba por arranjar emprego na mesma empresa e com idênticas funções às que muitos anos antes Fernando Pessoa desempenhara - na Agência de Publicidade Hora. Foi o seu primeiro emprego, tendo ficado como correspondente de Línguas.

Aos 24 anos foi co-fundadora da revista "O Tempo e o Modo", uma publicação de oposição católica ao regime salazarista, e aos 26 responsável pela edição portuguesa da revista internacional de teologia "Concilium". Três anos depois, em 1968, faz sua formação jornalística em Paris, regressando em 1973 para assumir a coordenação da revista do semanário "Expresso", onde inicia uma vida dedicada ao jornalismo.

Do "Expresso" passa para a ANOP - Agência de Notícias de Portugal, antecessora da Lusa, chefiando a Cultura e Educação. Passa ainda rapidamente pela administração do Instituto Português de Cultura e participa na fundação da revista "Raiz e Utopia", projecto de que fica responsável a partir de 1978.

Embora mantendo uma relação sempre muito próxima do poder, nunca se comprometeu partidária ou ideologicamente. Ao longo da sua carreira foi otelista, soarista, eanista, pirista, freitista e cavaquista, mas sempre fez questão de se afirmar independente.

É na qualidade de independente que decide apoiar a candidatura de Freitas do Amaral à Presidência da República e a de Cavaco Silva nas duas eleições legislativas.

A sua entrada para o Centro Nacional de Cultura deve-se a este projecto. Helena Vaz da Silva leva para lá a "Raiz e Utopia" e, ao instalar a revista, começa imediatamente a pensar o que fazer com todas as salas vazias: organiza colóquios e cursos, sendo os primeiros dedicados à Educação em 1977, escolhendo como convidados ministros do antes e depois do 25 de Abril.

Helena Vaz da Silva entra assim para a direcção do Centro Nacional de Cultura até que um dia António Alçada Baptista, numa assembleia geral, lançou o repto: "Mas afinal, se ela é que faz as coisas, por que é que não há-de ser ela que se chama presidente?". E foi, durante 25 anos.

A chamada "dona da cultura" ou, para os amigos, "Helena de Tróia", foi uma figura proeminente da vida cultural portuguesa, tendo sido um dos nomes apontados para o cargo de alta-comissária para Lisboa-Capital Europeia da Cultura.

Além da presidência Centro Nacional de Cultura, Helena Vaz da Silva presidia actualmente também a Comissão de Reflexão do Serviço Publico de Televisão, empossada pelo Governo a 5 de Junho. Uma reflexão que prosseguirá sem ela.

Morreu hoje aos 62 anos. O seu funeral realiza-se amanhã às 10h00 no cemitério do Alto de S. João.

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