Drugspotting

A "coolness" de Samuel L. Jackson (em "Fórmula 51", é um químico perito na criação de drogas, que se aborrece com o patrão e se muda para Inglaterra à procura de quem pague mais pela sua última invenção) é transposta para o cenário da proletária Liverpool e cruzada com o estilo nervoso, stressado, de Robert Carlyle (um pequeno gangster que se torna o seu comparsa).

A razão de ser do filme, se calhar, não vai muito mais longe do que isto: uma maneira de fazer render uma ideia de "casting" bizarra. Aliás, ideias de "casting" bizarras não faltaram à produção, que ainda encontrou modo de ter Meat Loaf a interpretar o papel de máximo vilão (é o patrão enganado de Jackson). Não são, de resto, as únicas coisas bizarras do filme, história de golpes e contra-golpes e traições e contra-traições em pano de fundo pop, que podia ter saído da cabeça de Quentin Tarantino se este tivesse nascido em Liverpool e tivesse Danny Boyle ("Pequenos crimes entre amigos") por vizinho.

É também um filme muito cabotino, à imagem daquilo que todos os actores fazem, como se quisesse ter uma colecção de caricaturas (de personagens e de situações) e as pretendesse bem vincadas. Como não podia deixar de ser, as diferenças entre ingleses e americanos são reforçadas pelo... futebol: Carlyle é um ferrenho adepto do Liverpool, que em vésperas do derby contra o Manchester United faz tudo (é por isso que se associa a Jackson) para arranjar um bilhete para o jogo. E é no jogo, em simultâneo com o golo do Liverpool, que tudo se resolve de maneira bem cabotina e bem escatológica (é ver para crer o que acontece a Meat Loaf).

Ronny Yu, um realizador que fez carreira em Hong Kong antes de se mudar para a América para dirigir subprodutos (tem uma das sequelas de "Chucky" no currículo), tenta dar um estilo mexido e desempoeirado, devedor das caricaturas realistas de filme como "Trainspotting", por exemplo. Mas nada disso é muito relevante, "Fórmula 51" é um longo número de Carlyle e Jackson, com alguns coadjuvantes (em particular, um grupo de skinheads que passa o filme a ser espancado, antes de uma má pastilha lhes oferecer um cruel destino).

Quem for para o "two men show" e se esquecer que não há propriamente um filme em volta deles, é capaz de, pelo menos, se divertir. Um bocadinho.

Sugerir correcção
Comentar