Mutações genéticas causadas por radiação podem ser hereditárias

A exposição a radiações causa mutações que persistem até à terceira geração. São estas as conclusões de uma experiência realizada em ratinhos de laboratório sujeitos a altas doses de raios-X.

Os resultados indicam que as alterações genéticas assim adquiridas podem ser herdadas por filhos e netos, refere a Lusa.

O estudo, publicado hoje na revista da Academia Nacional norte-americana das Ciências (Proceedings of the National Academy of Sciences), é o primeiro a demonstrar, de forma sistemática, a passagem de mutações causadas por radiação (altas doses de raios X e outras) de geração em geração, dizem os peritos.

No entanto, sublinham, as mutações são subtis, sem efeitos comprovados na saúde.

Estudos anteriores não tinham detectado mutações herdadas entre famílias humanas expostas a altos níveis de radiação, como as de Hiroshima, Japão, alvo do primeiro ataque com bomba atómica, e as de Chernobil, palco do maior acidente de sempre com uma central nuclear.

Richard B. Setlow, biofísico do Laboratório Nacional Brookhaven, reviu o estudo e considerou as descobertas significativas, uma vez que provam, pela primeira vez, que as mutações causadas por radiação podem ser herdadas nos mamíferos.

"Este estudo vai abrir caminho a mais experiências para responder a questões" sobre mutações herdadas causadas por radiação, disse Setlow.

"Antes deste estudo ninguém sabia o que procurar", indicou.

Os investigadores, conduzidos por Iuri E. Dubrova, da Universidade de Leicester, Reino Unido, expuseram um grupo de ratinhos machos de duas raças diferentes a neutrões e a raios-X.

Em seguida deixaram que os animais se reproduzissem com parceiras não expostas e analisaram o grau de mutação nos descendentes. Tanto os filhos como os netos dos ratos machos expostos revelaram alterações no ADN, numa variação mais elevada do que as mutações que naturalmente ocorrem de geração em geração entre ratos não expostos.

Os investigadores realçaram que as mudanças herdadas encontradas eram subtis e envolviam ADN sem "qualquer função aparente".

No entanto, os peritos dizem que o facto de as mutações se transmitirem de geração em geração é um factor preocupante devido ao possível aumento do risco de cancro e outras doenças.

Os cientistas nunca identificaram uma mutação herdada entre as famílias dos sobreviventes de Hiroshima, mas "isso não significa que elas nunca tenham existido", disse Setlow.

A variabilidade genética entre as pessoas é muito maior do que a existente entre os ratinhos usados na experiência, disse.

"Queríamos saber quais são os riscos da radiação", continuou. "Por isso, isto é algo que nos deve preocupar. Pode haver qualquer coisa a ser transmitida para a descendência apesar de não sermos capazes de a detectar", acrescentou.

A sequência do mapa do genoma humano, ou da estrutura genética, deverá permitir aos cientistas detectarem mutações herdadas que anteriormente não eram tão óbvias, disse o investigador.

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