Em 33 concelhos portugueses bebe-se água com chumbo

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O chumbo pode afectar o sistema nervoso central ou renal DR

Em 33 concelhos de Portugal os canos de abastecimento de água às habitações ainda são de chumbo, apesar dos alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para os danos que o consumo de água com este metal pode provocar no corpo humano, informou hoje a Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas.

O chumbo é armazenado no osso e pode afectar vários outros sistemas orgânicos como o nervoso central ou renal, provocando dor abdominal, náuseas, vómitos, anemia, dores musculares, alterações da memória, convulsões e até coma.Em 1994 havia pelo menos 180 mil metros de ramais em chumbo (cerca de 60 mil ramais) para abastecer 90 milhares de habitações, segundo um estudo da Comissão Especializada da Qualidade da Água da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), divulgado hoje num encontro sobre a problemática do chumbo na água para consumo humano.
Com base num inquérito a 305 concelhos, abrangendo cerca de 7,6 milhões de habitantes, a APDA concluiu que em 27 desses concelhos há ramais de ligação em chumbo nos sistemas de distribuição, com predominância em Lisboa (com seis desses 27 concelhos), Porto (3) e Açores (3), informou a Lusa.
A existência de redes internas em chumbo foi detectada em 33 concelhos, destacando-se Lisboa, com 6 desses concelhos, Viseu (quatro concelhos), Santarém (3) e Açores (3).
Maria João Beneviel, da APDA, que apresentou hoje publicamente o estudo, alertou para o facto de que as concentrações de chumbo na água podem ocorrer mesmo na ausência de tubagens neste metal, quando exista a presença do chumbo em materiais aplicados nos sistemas de abastecimento e nas redes prediais.

Comissão Europeia recomendou substituição de ramais

A Comissão Europeia, numa directiva de 1998 transposta para Portugal pelo decreto-lei 243/2001, recomenda a substituição dos ramais e das redes prediais em chumbo, a instalação de filtros na torneira do consumidor, o escoamento de água antes de qualquer utilização e o tratamento da água, por exemplo através da adição de inibidores de corrosão. No entanto, e porque a substituição das canalizações de chumbo em Portugal custa cerca de 300 milhões de contos (1.500 milhões de euros), segundo um estudo encomendado pela Comissão Europeia a preços de 1994, estima-se que existam mais de 90 mil habitações portuguesas com redes prediais em chumbo.
Embora a directiva seja aplicada à água que sai da torneira do consumidor normalmente usada para consumo humano, o distribuidor de água é apenas responsável pela água até à entrada da rede predial, devendo tomar todas as medidas possíveis para reduzir a concentração de chumbo na água.
Qualquer subsequente deterioração na qualidade da água é da responsabilidade do proprietário, podendo ser causada por deficiente desinfecção de novas instalações, pela existência de redes particulares com tubagens de material inadequado, nomeadamente chumbo.
A APDA considera que, uma vez que não é possível obrigar os proprietários a substituir as canalizações prediais de chumbo, excepto nos casos de edifícios públicos, é essencial que seja criado ao nível governamental um sistema de esclarecimento aos proprietários das implicações das redes prediais em chumbo para a saúde, assim como apoio financeiro para fomentar a sua substituição.

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