Um investimento com efeitos a longo prazo

Foto

Além das múltiplas infra-estruturas, o Euro 2004 terá um efeito de promoção do país que atingirá 12 mil milhões de telespectadores.

Não existem cálculos oficiais sobre o impacte que a realização do Euro 2004 terá em Portugal, mas a expectativa é enorme. A organização é cautelosa e diz que “há apenas um estudo que foi feito na fase de candidatura”, mas que está muito desactualizado, até porque “não eram ainda conhecidos os resultados do Euro 2000”. Como exemplo, aponta apenas o que se passa com os direitos televisivos para a Europa, que foram já negociados com a Eurovisão por 104 milhões de contos, o que, em relação ao Europeu de 96, em Inglaterra, representa uma quadruplicação.

“O Conselho de Administração está a refazê-lo, já com todos os elementos, mas não existem ainda quaisquer perspectivas.” Quem o diz é um dos seus elementos, António Laranjo, que aponta como única referência a Expo ’98, “que fez crescer o turismo em Portugal em 16 por cento”. Um evento concentrado apenas numa zona de Lisboa e que não tem paralelo com um acontecimento que vai abranger todo o país. “Terá, naturalmente, um efeito muito maior, e penso que os resultados não se podem, nesta altura, quantificar, dada a grandeza do evento.” Mas, além do turismo, Laranjo aponta ainda para “o que o Estado arrecada pela via fiscal” e que, normalmente, não é contabilizado.

Independentemente das receitas directas, este responsável valoriza, essencialmente, o aspecto das infra-estruturas e da promoção do país, cujos efeitos se reproduzem no futuro e nenhuma outra campanha conseguiria igualar ou aproximar-se sequer, por mais alargados que fossem os custos. Por via do comprometimento do Governo, o país vai ficar dotado, até 2004, com uma série de infra-estruturas ligadas à rede viária, aeroportos e hospitais, e que, embora já programadas e projectadas, terão um efeito indutor na economia interna imediato e que se repercutirá ao longo de décadas. Paralelamente, há o investimento privado indirecto, como é o caso dos hotéis, que, embora motivado pelo Euro, não se esgota nem depende do evento. “Ninguém vai fazer um hotel para o Euro, senão teria que o fechar no dia seguinte. Se o faz é porque há mercado e o vai rentabilizar no furturo”, explica um dos organizadores.

Como cálculos, a organização socorre-se, mais uma vez, dos números da Expo, que contabilizou uma despesa média de 20 contos/dia por cada visitante, independentemente dos montantes gastos em viagens e alojamento. Para o Euro, estão previstos 1,2 milhões de espectadores, mas calcula-se que, a cada espectador nos estádios, correspondam três a quatro visitantes no país, já que, sendo Portugal um destino turístico por natureza, esses espectadores se farão acompanhar de amigos ou familiares directos.

Mas o que é verdadeiramente valorizado pela organização são as infra-estruturas e o efeito promocional para o país. Só pela televisão, os cálculos apontam para doze mil milhões de telespectadores em todo o Mundo e “é certo que as televisões não vão só falar de futebol durante todo esse tempo”, como diz António Laranjo para explicar que “não há valores que possam pagar uma tal campanha promocional” e, como tal, não são também quantificáveis os resultados daquilo que se vai investir com o Euro 2004.

Nas infra-estruturas rodioviárias, o destaque vai para a conclusão da auto-estrada de ligação ao Algarve (A2), que deverá ficar pronta em Julho do próximo ano, a Circular Sul de Braga, que completará a ligação da cidade à A3, prevista para Dezembro próximo, o troço da A7 entre Vila do Conde e Famalicão, que ligará Guimarães ao litoral por auto-estrada e deverá ficar concluído até ao final de 2003, o troço Caldas da Rainha-Leiria, na A8, a acabar até Setembro próximo, e a completa ligação por auto-estrada (A14) entre Coimbra e Figueira da Foz, a concluir até final do corrente ano. Também no Porto a reformulação dos nós de Francos (ligação à Boavista) e do Mercado Abastecedor (junto às Antas), ambos na Via de Cintura Interna, são exemplos de importantes obras estruturais há muito aguardadas e que vão criar novas acessibilidades da rede viária principal ao interior da cidade.

Nos aeroportos, as obras prevêem o aumento da capacidade de Lisboa para 12 milhões de passageiros/ano, enquanto decorrem já as obras de remodelação de Faro e do Porto. Faro vai passar a poder receber 8 milhões de passageiros/ano, aumenta a área do terminal de passageiros em 53 por cento e os balcões de “check-in” passam dos actuais 23 para 62. No Porto, serão instaladas sete pontes telescópicas, um parque de estacionamento subterrâneo e os balcões de “check-in” aumentarão de 18 para 60. Em Faro, as obras deverão estar concluídas em Junho do próximo ano e no Porto em Março de 2003.

Os números do Euro

- 104 milhões de contos de direitos de transmissão televisiva negociados pela Eurovisão só para a Europa- 12 mil milhões de telespectadores como audiência previsível durante o campeonato
- 1,2 milhões de espectadores nos estádios
- 4,8 milhões de visitantes estrangeiros atraídos pelo evento
- 20 contos gastos por dia por visitante
- 96 milhões de contos de receitas prováveis através do turismo especificamente atraído pelo campeonato
- 10 a 12 mil acreditações para jornalistas

Sugerir correcção
Comentar