É um filme perfeito. Não exactamente pelo falível "cruzamento cultural" que se referiu a propósito, firmado no regresso de Ang Lee, cidadão americano desde os anos 70, a uma China ancestral, até porque esta serve apenas como "paisagem" para um olhar inegavelmente ocidental - nessa perspectiva, mais interessante do que saber por que motivo "O Tigre e o Dragão" é, desde sempre, o filme de língua estrangeira mais rentável nos EUA, é perceber por que fracassou nas bilheteiras chinesas. Perfeito, dizia-se? Sim, porque Lee inscreve dois movimentos no filme, tentando assegurar que nenhum dos alvos fique por acertar: se o deslumbre falhar com a ascética gravitação dos combates de artes marciais (mais próxima da estética dos jogos de vídeo do que dos velhos musicais, como alguém apontou), é seguro que não resista ao melodrama romântico que a dada altura parece instalar outro filme dentro do filme. A cena no deserto, em que se dá o encontro dos dois amantes - ela, uma aristocrata libertária, ele, um bandido em busca de estrelas cadentes -, é tão intensamente cintilante - e essa, sim, resume a suposta "aculturação" do realizador, aliando a China mítica aos códigos do "western", à caverna de Ali Babá e à guerra dos sexos evocativa do par Katharine Hepburn/Spencer Tracy - que merecia que Ang Lee se demorasse mais por lá.
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