Projecto ambiciosíssimo de Carlos Saura: rever a vida e a obra de Goya, e idealmente fundi-las, através de um sistema de "flash-backs" ancorado nos últimos dias da vida do pintor, passados no exílio em Bordéus. Louve-se a vontade de fugir ao "biopic" tradicional, mas nem por isso "Goya em Bordéus" deixa de ser um enorme falhanço. A personagem, esquartejada numa série de vinhetas mais ou menos anedóticas, nunca "aparece" com a força pretendida (e o actor que interpreta o Goya "jovem", José Coronado, é muito pouco carismático). Por outro lado, a vontade de "estar à altura" da pintura de Goya tem efeitos contraproducentes: tecnicamente, a fotografia de Vittorio Storaro é magnífica, mas está sempre a trabalhar sobre o vazio, condenada a mimar motivos temáticos, figurativos e cromáticos do pintor espanhol. Estamos muito longe do "Passion" de Godard, e apetece dizer que à força de querer fazer pintura, Saura se esqueceu do cinema. Na melhor das hipóteses, o didactismo pobre do filme encontrará o seu espaço na televisão, como ilustração de programas culturais pouco imaginativos. Mas precisará sempre de "debate" no fim, porque sobre Goya e a sua pintura diz muito pouco e reflecte ainda menos.
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