Havia em "Peixe-Lua" material para um grande filme: algumas personagens bem delineadas, um imaginário ibérico forte, ancorado em Garcia Lorca e numa ideia mítica do Sul mediterrânico, um espantoso sentido do espaço, filmando Alcochete, o rio, os além-tejos com uma intensidade rara. O que falha, então, no filme? Por um lado, a aposta numa montagem complexa, aspirando a uma escrita polifónica, o que torna demasiado confusa a relação entre presente e passados. Por outro, o excesso de personagens (algumas delas perfeitamente dispensáveis) e de linhas narrativas, que obscurecem e diluem o essencial. Entendamo-nos, contudo, "Peixe Lua" possui um desejo de ficção e alguns momentos mágicos, que o tornam um objecto estimável. Sequências fundamentais, como a da tourada vivida na claustrofobia do bar ou os escondidos jogos sexuais em cozinhas e lugares esconsos, confrontam-se com a trivialidade do casamento final, demasiado recheado de "clichés". Mesmo na direcção de actores ficam dúvidas quanto a opções de fundo, de tal modo a personagem de Ricardo Aibéo aparece a pairar sobre a ficção e a de Afonso de Melo (um grande actor de cinema, injustamente pouco utilizado) se encontra insuficientemente desenvolvida. E o registo de Paco Rabal nem sempre se harmoniza com a subtileza de Beatriz Batarda (excelente) ou o sonambulismo de Marcello Urgeghe. No balanço geral, um filme interessante, mas aquém das expectativas que o (mais) pequeno formato de "Zéfiro" tinha gerado.
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