Comédia de costumes, e uma das surpresas do ano: "O Oposto do Sexo", de Don Roos. No centro, uma jovem ninfomaníaca e neurótica (Christina Ricci), que foge com o namorado do irmão homossexual, que mata o amante que só tem um testículo, e que conta todas as outras peripécias deste "soap" com uma voz tão cínica que transforma um inacreditável melodrama sexual numa hilariante comédia negra. Que foge do politicamente correcto como da peste. Don Roos poderia ter optado por um banal registo de comédia, mas encontrou um verdadeiro "ovo de Colombo", uma narrativa de primeira pessoa, cínica e distanciada, que dá voz a uma personagem feminina apresentada em apostar-se como a má da fita. Desde os primeiros planos de "O Oposto do Sexo", a "voz off" dá sinal de que o som comanda e modifica a imagem, criando zonas de encontro e afastamento entre a acção e o seu comentário verbal. No entanto, quando cremos que estamos no domínio da ilustração, depressa nos apercebemos que outros mecanismos de manipulação entraram em cena. Aliás, um dos artifícios usados com maior eficácia é o da antecipação: a protagonista, interpretada pela fabulosa Christina Ricci, misto perverso de Alice e de Lolita, chama desde o início a atenção para o facto de estar armada, preparando-nos para a perda do elemento surpresa na evolução deste inacreditável melodrama sexual, mascarado de "thriller romântico" e revestido, sobretudo por via da intervenção da voz da narradora, em hilariante comédia negra.
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