Moradores de Quenena desesperam com águas imundas da lixeira

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A poluição está à vista mesmo à beira dos habitantes Público

Quando se chega a Quenena, uma pequena povoação nos limites do concelho de Cascais, sente-se logo o mau cheiro que vem do aterro sanitário construído há três anos, entre Talaíde e Trajouce. É o segundo equipamento deste tipo construído na zona. Mas pior do que o cheiro, para os moradores que ali se instalaram há décadas, é a água suja e espumosa que escorre pelos caminhos, rasando as casas, e que não augura nada de bom para a saúde.

Inflamações dos olhos e da garganta e dores de cabeça persistentes são alguns sintomas de que se queixam as pessoas, que, à data da construção do segundo aterro sanitário, foram informadas pela Câmara de Cascais de que lhes seria impossível permanecer naquele local, porque a atmosfera estava irremediavelmente contaminada. O mesmo acontecera já com as águas dos poços, que deixaram de poder usar, porque as escorrências vindas dos chamados aterros sanitários - a que a população prefere chamar lixeiras - as tornaram insalubres. "Na altura custou-nos aceitar o facto, porque estas casas foram construídas por nós com muito esforço. Mas depois começámos a assimilar a ideia, até porque o presidente da câmara nos avisou logo de que não iria fazer nada para melhorar o saneamento, ou os arruamentos, porque esta zona estava condenada. Daí que tenhamos aceitado iniciar negociações para sairmos daqui", contou uma moradora, Glória Marques.
O facto de Quenena ser considerado pela autarquia um bairro clandestino, a exterminar, não lhes dá, porém, grande força nas negociações. As primeiras propostas apresentadas pela câmara e pela Associação de Municípios para o Tratamento de Resíduos Sólidos (Amtres) foram consideradas irrisórias. Posteriormente o presidente da autarquia, José Luis Judas, fez-lhes uma nova proposta que lhes pareceu mais atraente. "Em vez de nos indemnizarem pelo valor real das casas, davam-nos um valor mais baixo, mas que era compensado com lotes de terreno no Cabeço de Mouro, para que pudéssemos construir novas habitações", explicou outra moradora, Glória Carvalho.
Isso aconteceu já há mais de um ano e, nessa altura, "a proposta foi aceite", confirmaram ambas as habitantes. "Só que de então para cá nada foi feito e a situação tem vindo a deteriorar-se cada vez mais. Há dias em que o cheiro já nem é a lixo. É a gás e até faz dores de cabeça. Outro problema são as águas sujas que correm a céu aberto à beira das casas, vindas da lixeira, que até já nos fez apelar à Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território, que mandou cá um técnico", referiu Glória Marques.
A situação diagnosticada não foi brilhante. João Quaresma, responsável da Direcção Regional do Ambiente, disse que a Amtres e a Tratolixo - a empresa que explora os lixos recebidos pela associação - "vão ter que melhorar o sistema de tratamento de lixiviados que instalaram, que não está a funcionar convenientemente". Actualmente, garante, essa pequena estação de tratamento tem estado "parada", porque "houve um descontrolo dos caudais" e constatou-se a necessidade de "afinar o sistema".
Segundo o mesmo responsável, há uma acção urgente que a Amtres terá de concretizar: o desvio das águas pluviais, que também estão a passar pelo aterro sanitário, o que aumenta os caudais dos lixiviados que acabam por escorrer por Quenena sem tratamento.

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