Do tudo ao nada, como o Benfica tem lidado com o “tetra”

Pela sexta vez na sua história, as “águias” tentam completar uma série de quatro títulos sem interrupções. Só numa das cinco ocasiões anteriores não fecharam a temporada de mãos a abanar.

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O Estádio da Luz deverá ter casa cheia amanhã, para a recepção ao V. Guimarães oxana ianin

Quando o técnico John Mortimore olha para trás, concretamente para a época 1977-78, ainda terá dificuldades em aceitar que o Benfica tenha falhado, pela quinta vez no seu historial, a hipótese de um tetracampeonato. Essa temporada, cujo título foi conquistado pelo FC Porto em igualdade pontual com as “águias”, foi a que mais perto esteve de representar para os lisboetas o primeiro ciclo de quatro Ligas consecutivas. Mas, à imagem do que acontecera até então, o objectivo ficou por cumprir, confirmando-se a tendência para dar seguimento a um “tri” com uma mão-cheia de nada.

Amanhã, em pleno Estádio da Luz, o Benfica terá o primeiro assalto a uma sexta possibilidade de chegar ao “tetra”, algo que conseguirá de imediato — e sem depender de terceiros — com um triunfo sobre o V. Guimarães. Para isso, terá de romper com um ciclo de cinco tentativas mal sucedidas, quatro das quais redundaram em temporadas sem qualquer sombra de troféus.

A saga começou em 1938-39, na sequência de um tricampeonato alcançado pelas mãos dos treinadores Vítor Gonçalves e Lipo Herczka. O húngaro falharia, porém, todos os objectivos (terceiro lugar nos campeonatos regional e nacional e derrota na final da Taça de Portugal) na época seguinte, com o título arrebatado pelo FC Porto, e o Benfica só viria a aproximar-se novamente dessa meta mais de 25 anos depois.

Foi na década de ouro do futebol dos “encarnados” que o filme se repetiu com insistência. Em 1965-66, a equipa que tinha conquistado duas Taças dos Campeões Europeus não deu seguimento a um novo “tri”, especialmente por força dos pontos perdidos a Norte. Sob as ordens de Bela Guttmann, o Benfica perdeu com o FC Porto (2-0), com o V. Guimarães (3-2) — à 22.ª jornada numa altura em que liderava a prova — e empatou com Beira-Mar (1-1), Varzim (1-1) e Sp. Braga (0-0). Contas feitas, um ponto a menos que o Sporting, que se sagraria campeão numa época de zero conquistas para as “águias”, algo que já não acontecia desde 1958.

A discussão pelo primeiro lugar seria bem menos equilibrada em 1969-70, que terminou novamente com Alvalade em festa, graças a uma diferença de oito pontos para o rival lisboeta. Foi uma época particularmente atribulada para o Benfica, que viu o Estádio da Luz ser interditado na 16.ª jornada, após uma invasão de campo num jogo com o Belenenses que afastou também o goleador Torres (autor de 12 golos até então) por seis jogos. E nem a conquista da Taça, já depois do abandono de Otto Glória após uma derrota com a CUF, amenizou a desilusão.

Um sentimento que tomou de novo conta das hostes benfiquistas em 1973-74, quando o Sporting voltou a impor-se (desta feita por dois pontos) com a ajuda de um goleador estratosférico. A época em que Yazalde marcou 46 golos foi mais uma em que o Benfica nada conquistou, sendo que, no campeonato, revelar-se-iam fatais os empates a zero registados fora com o Farense, o V. Guimarães e o Barreirense.

Três anos volvidos e uma nova tentativa à porta, a tal que John Mortimore não esquecerá. Diria o treinador britânico que, nessa temporada de 1977-78, a equipa jogara melhor do que na anterior, em que se sagrara tricampeã. Os números até ajudam a sustentar a tese, já que os “encarnados” cumpriram toda a prova sem derrotas. Mas o certo é que não chegou para superarem o FC Porto, que celebraria com os mesmos 51 pontos do rival. E voltam a ser os “dragões” a fazer sombra ao “tetra” neste fim-de-semana.     

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