Medalha aos 998m, primeiro dos últimos aos 1000m

O K2 de Emanuel Silva e João Ribeiro terminou em quarto lugar na final da prova de 1000m. Resta o K4 para tentar uma medalha no Rio para a canoagem portuguesa.

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A dupla portuguesa de K2 1000m, João Ribeiro e Emanuel Silva DAMIEN MEYER/AFP

Vê-se bem ao longe e, de perto, ainda parece maior. Vlade Divac, um dos melhores basquetebolistas europeus de sempre, foi ver a canoagem olímpica. O que fazia o antigo poste dos Lakers na lagoa Rodrigo de Freitas às 9h da manhã? A resposta é simples. Divac é o presidente do Comité Olímpico da Sérvia e foi ver os seus compatriotas Marco Tomisevic e Milenko Zoric disputarem a final olímpica de K2 1000 metros. Três minutos depois, deu para ver que Divac é realmente grande (2,16m). Tomisevic e Zoric acabavam de conseguir a medalha de prata e o antigo poste levantou-se e celebrou uma corrida em que o barco sérvio começou atrás e acabou na frente. Com Emanuel Silva e João Ribeiro aconteceu exactamente o contrário.

Depois de andar quase toda a prova dentro das posições de pódio, o K2 português acabou por perder uma medalha nos últimos metros, ultrapassado praticamente em cima da linha pelos australianos Ken Wallace e Lachlan Tame. Na frente, os alemães Max Rendschmidt e Marcus Gross e os dois sérvios, com uma distância assinalável da concorrência. A medalha de bronze ficou à distância de quase nada, uns 0,296s, mas o suficiente para afastar os portugueses do pódio. “Se a meta fosse aos 998 metros, tínhamos a medalha de bronze. Foi aos 1000m. Os outros foram mais fortes”, lamentou no final Emanuel Silva após a terceira final olímpica da sua carreira.

O K2 português tinha um estatuto português a defender no Rio. Em rigor, metade do K2. Emanuel Silva tinha sido vice-campeão olímpico em Londres 2012, fazendo dupla com Fernando Pimenta, que, entretanto, saltou do barco para fazer o K1. Para o novo ciclo, emparelhou-se com João Ribeiro e os resultados foram aparecendo (campeões do mundo em 2013 em K2 500m). A final olímpica era o passo seguinte. Emanuel era o veterano de muitas campanhas (quarta participação nos Jogos), Ribeiro era o estreante, e a estratégia estava definida. Arrancar forte e ir atrás dos alemães. 

Durante quase toda a corrida, o plano deu certo. Terceiros aos 250 e aos 500, segundos aos 750. Nos últimos metros, as coisas ficaram renhidas. Os alemães pagaiaram sempre em primeiro e ficaram inacessíveis para toda a gente. Os sérvios foram de sexto a segundo e os australianos, quartos aos 750, chegaram ao pódio. Depois do quinto lugar de Pimenta no K1, nova posição fora do pódio para a canoagem portuguesa, sendo que os outros dois barcos que competiram na lagoa não chegaram à final A – Hélder Silva foi quinto na final B de C1 200 e Teresa Portela terminou em terceiro na final B do K1 500.

“Só depois de cortar a meta, quando olho para o lado esquerdo onde estavam os candidatos, reparei que tínhamos sido ultrapassados pelos australianos. Sabíamos que vínhamos nos lugares da frente e tinha de acreditar. O João tinha ordens para não olhar para o lado, para seguir o meu ritmo e a minha estratégia. Foi quase perfeito. O perfeito seria uma medalha”, resumiu Emanuel Silva, para quem não houve falhas na prova da dupla: “Os outros simplesmente foram mais fortes. Rendemos o nosso máximo. Estávamos preparados física e emocionalmente. Desde que esta dupla se juntou acreditámos sempre um no outro. Esta dupla tem sucesso e há que continuar. O mundo não acaba. Esta regata já é passado.”

Ao contrário do veterano Emanuel Silva, que já leva três finais em quatro consecutivas nos Jogos desde 2004, João Ribeiro era o novato destas andanças e com “ordens” do seu proa para não olhar para os lados. Não houve ponta de nervosismo, garantiu o canoísta de Esposende. Faltou foi um “bocadinho” para a medalha: “Vínhamos com um objectivo de ir à final e disputar as medalhas. A semifinal correu super bem e hoje sentimo-nos bem. Faltou esse bocadinho para a medalha. consegui abstrair-me disso tudo [de ser a primeira final olímpica] e disse à minha família que parecia que estava a competir num campeonato regional. Não tinha pressão, estava descontraído, o barco não tremeu. Fizemos tudo perfeito, mas não deu.”

A última oportunidade

Depois de cumprida a participação de seis dos sete barcos, a canoagem portuguesa tem mais uma oportunidade para tentar uma medalha nos Jogos do Rio. Nesta sexta-feira, entra em acção o K4 formado por Fernando Pimenta, Emanuel Silva, João Ribeiro e David Fernandes, uma embarcação que tem conquistado diversos títulos e posições de pódio em todas as grandes competições internacionais. Este K4 com esta tripulação já foi, por exemplo, campeão da Europa em 2011, duas vezes campeão continental em 2013 e 2015 e vice-campeão do mundo em 2014. 

Se o barco português ultrapassar as eliminatórias e meias-finais na sexta-feira, terá no sábado a final. E não serão os resultados frustrantes nos Jogos que vão diminuir a ambição portuguesa. Fernando Pimenta já tinha dito que iria estar furioso para o K4, Emanuel Silva garante o mesmo: “Em todos os barcos que entro, entro sempre com raiva e furioso, é o meu instinto animalesco. Tenho 31 anos e não estou cansado disto. Cada vez me da mais prazer representar o meu pais. Vou com tudo.”

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