Quenianos ganham pela oitava vez consecutiva os 3000m obstáculos

Eliminação do polaco Pawel Fajdek no lançamento do martelo foi o resultado mais inesperado da jornada matinal do atletismo desta quarta-feira.

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Conselsus Kipruto festeja o seu triunfo nos 3000m obstáculos DAVID GRAY/Reuters

A disciplina, das mais antigas do atletismo, pode designar-se por 3000m com obstáculos, mas a verdade é que para os quenianos os obstáculos para a ganharem não parecem existir. Nesta quarta-feira, de manhã no Brasil, no início do sexto dia do atletismo, Conselsus Kipruto sagrou-se campeão olímpico dessa disciplina, o que significou o oitavo título consecutivo do Quénia na mesma prova - uma série iniciada em Los Angeles, em 1984.

Esta era uma prova com forte preponderância europeia e nos anos setenta e oitenta do século passado houve especialistas do Velho Continente que fizeram marcas que poderiam ainda hoje figurar entre as melhores. Mas depois da final de 1976, dramática, quando o alemão de leste Frank Baumgartl caiu no último obstáculo, deixando o sueco Anders Gärderud fugir para a vitória e recorde do mundo (8m08,02s), e dos Jogos de 1980, boicotados pelos Estados Unidos e (parte dos) aliados, em que triunfou o polaco Bronislaw Malinowski (seguido de um tanzaniano e de um etíope), o domínio foi sempre queniano. Ganharam todas as finais a partir daí, a que juntaram o triunfo de Kip Keino nos Jogos do México de 1968.

Os quenianos não conseguiram todo o pódio, como haviam feito em 1992, em Barcelona, e em 2000, em Sydney. A exemplo do francês Mahiedine Mekhissi, medalha de prata em 2008 e 2012, desta vez foi o americano Evan Jaeger quem se intrometeu entre os quenianos e ganhou a primeira medalha olímpica para o seu país desde 1984. Em 1952 os EUA tiveram uma vitória famosa nesta disciplina através de um agente do FBI, Horace Ashenfelter…

A temperatura muito elevada poderia ter condicionado a final, mas desde o tiro de partida que a tónica foi a da marcação de um ritmo muito forte. Conselsus Kipruto, de 21 anos apenas, antigo campeão mundial juvenil e júnior e medalhado de prata nos dois últimos mundiais (atrás de Kemboi e, em Pequim, o ano passado, adiante do terceiro homem do Quénia desta quarta-feira, Brimin Kipruto), logo veio para a frente e foi Jaeger quem se juntou a ele, ajudando a que em breve o pelotão se partisse, enquanto Mekhissi optava por ficar num segundo grupo, num andamento mais prudente. Kipruto passou o primeiro quilómetro em 2m41,64s e pareceu, desde aí, que se poderia correr para perto dos 8 minutos, barreira que só dez quenianos e um marroquino conseguiram bater na história, e aceitando como boa a asserção de que o recordista mundial Saif Shaheen é um queniano transferido para o Quatar - Mekhissi é o recordista europeu com 8m00,09s, Jaeger o americano, com 8m00,45s.

Evan Jaeger tomou então a decisão de ser ele a marcar o ritmo, num risco evidente para quem é menos bom terminador do que os quenianos, mantendo forte pressão sobre o pelotão. A breve trecho ficaram só três na frente, o americano, Conselsus Kipruto e Ezekiel Kemboi. Pareceria estar tudo preparado para que Kemboi, campeão olímpico em 2004 e 2012, e entretanto quatro vezes campeão mundial, fosse partir para outro triunfo. Porém, Conselsus Kipruto, imbatido esta época e líder anual com 8m00,12s, tinha outra ideia e antes da volta final conseguiu isolar-se, para evitar uma chegada em conjunto com Kemboi. Apesar da resistência de Jaeger, Kipruto já festejava, acenando para o público, a 120m do fim, e fechava a corrida com o recorde olímpico de 8m03,28s, exactamente um segundo adiante de Jaeger. Ezekiel Kemboi terminou em terceiro, mas seria posteriormente desqualificado, entregando a medalha de bronze a Mahiedine Mekhissi, que tardou quase oito segundos - Kemboi declararia, no final que tinha corrido a sua última prova.

Nas várias qualificações disputadas nesta quarta-feira aconteceu uma grande surpresa, algo que deve ter sido sentido na Polónia como o seria na Jamaica caso Usain Bolt ou Shelly Ann-Fraser fossem eliminados nos 100m. O favorito único para o lançamento do martelo, líder mundial e embatido há muito tempo Pawel Fajdek, apareceu em pista sem influxo e o melhor que conseguiu foi 72,00m ao terceiro ensaio, ficando longe do apuramento para a final (eram pedidos 76,50m). Vozes correram no Rio de Janeiro de que estaria a pagar uma festa da noite antecedente, à imagem de outras situações anteriores. Mas essas, ao que se sabe, ocorreram à posteriori dos seus triunfos, agora Fajdek terá festejado cedo de mais, para uma eliminação incrível que fez lembrar a da varista brasileira Fabiana Murer na véspera - só que esta revelou uma lesão que a vinha apoquentando.

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