Avermaet arriscou na medida certa em Copacabana

Mais de metade do pelotão desistiu na duríssima prova de estrada do ciclismo olímpico. Rui Costa terminou em 10.º e melhorou o resultado de Londres.

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Greg Van Avermaet depois de passar a meta ERIC GAILLARD/Reuters
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Matthew Childs/Reuters

Basicamente, a prova de ciclismo de estrada nos Jogos Olímpicos é uma clássica, uma corrida de um dia em que tudo pode acontecer. Pode ser uma prova plana corrida em circuito, em que os ciclistas passam 200 quilómetros a ganhar balanço para o sprint nas últimas centenas de metros. Ou pode ser um percurso acidentado, em que qualquer pequeno desequilíbrio numa curva em descida pode custar caro. É nesta segunda categoria que se pode colocar a prova de estrada que se disputou, neste sábado, no Rio de Janeiro. Muitas quedas, muitas reviravoltas, muita emoção e muita incerteza até aos últimos metros, um grande espectáculo de ciclismo na deslumbrante paisagem de Copacabana. O belga Greg Van Avermaet foi quem arriscou na medida certa e chegou à meta ao lado da praia em primeiro, ganhando no sprint final ao dinamarquês Jakob Fulgsang e ao polaco Rafal Majka.

Com um percurso com este perfil, não admira que ciclistas como Bradley Wiggins, Mark Cavendish e Peter Sagan, que seriam candidatos numa prova plana, tenham ido para outras competições do ciclismo – os britânicos foram para o ciclismo de pista, o eslovaco foi para o BTT. Esta era uma prova em que quase um terço do traçado – 77 quilómetros em 237,5 – era feito de subidas difíceis e descidas muito arriscadas, precisamente as três voltas no sector que incluía o miradouro da Vista Chinesa, a 530m de altitude. Cada volta tinha duas subidas difíceis e uma descida muito técnica, onde nem os mais experientes escaparam aos acidentes. “Foi a anarquia total. Aconteceu tudo, quedas, pneus furados, vento, foi um dia duro”, confessou, no final, Brent Bookwalter, dos EUA.

Numa prova que iria durar mais de seis horas, um grupo escapou ao pelotão sem nunca ter uma vantagem determinante. Depois de quatro voltas num primeiro circuito com pequenas subidas e uma parte em empedrado, só quatro da fuga original é que seguiram em grupo no início da primeira subida em Lagoas - o alemão Simon Geschke, o polaco Michal Kwiatkowski, o colombiano Jarlinson Pantano e o russo Pavel Kochetkov. Mais atrás, os italianos Damiano Caruso, Fabio Aru e Vincenzo Nibali atacaram o pelotão e levaram mais uns quantos atrás de si, apanhando rapidamente os sobreviventes da frente.

A primeira descida provocou algumas vítimas sonantes. Chris Froome foi um dos que caíram e ainda se levantou, mas homens como Richie Porte ou Nelson Oliveira desistiram após queda – o português ficou bastante amachucado, mas garantiu que vai estar em condições para a prova de contra-relógio na próxima quarta-feira. A exigência do percurso está bem patente no número de baixas que provocou: dos 143 inscritos, terminaram apenas 63, desistiram 79 e dois chegaram depois do tempo limite.

Na última volta do circuito, a luta pelo ouro parecia estar reduzida a três, ao italiano Vincenzo Nibali, ao colombiano Sergio Henao e ao polaco Rafal Majka. Mas a reviravolta aconteceu. Nibali, um especialista em descidas, e Henao caíram na descida final, enquanto Majka conseguiu escapar ao acidente. O polaco ficou sozinho na frente e entrou isolado na última dezena de quilómetros já em percurso plano, em paralelo com a praia de Copacabana, de onde muita gente saltou por uns momentos para ir ver a chegada.

Mas Majka não contava com o ataque concertado de Fuglsang e Avermaet. Os dois fugiram ao grupo perseguidor e foram bem mais fortes que o polaco, cuja cara de esforço não escondia que já estava para lá do último fôlego. Os três ficaram juntos por mais uns metros, mas a verdadeira luta no sprint foi apenas a dois. Majka deixou-se ficar e Avermaet foi o mais rápido na recta final, tornando-se no segundo belga a chegar ao ouro olímpico, depois de André Noyelle em 1952.

Tal como acontecera em Londres 2012, Rui Costa voltou a ser o melhor dos quatro portugueses, terminando em 10.º - André Cardoso foi 36.º, José Mendes terminou em 53.º e Nelson Oliveira desistiu. Costa melhorou o seu 13.º de há quatro anos, mas ficou com a sensação de que podia ter feito mais. “Sabíamos que era duro, apesar de quem faz a dureza serem os próprios corredores. São os Jogos Olímpicos, não se vai devagar, o ritmo é sempre agressivo, mas era mais ou menos o que estávamos a contar. Acabei no top 10, mas fico com a sensação que poderia ter corrido melhor. Houve a situação técnica da bicicleta e ter havido aquela queda à minha frente. Ia bem colocado no grupo, que depois acabou por beneficiar da queda à minha frente. Ia entre os dez. O ciclismo é mesmo assim, pelo menos ter terminado no top 10 já é bom”, referiu o antigo campeão mundial.

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