No Barro de Alvalade, a arte Mostra-se sem aura

85 nomes da arte portuguesa participam numa peculiar iniciativa

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A mOstra ocupará três pisos de um edifício desabitado na Rua do Centro Cultural 2, em Lisboa DR

Começa no próximo dia 10 de Abril, no Bairro de Alvalade (Lisboa) uma das iniciativas mais peculiares da arte portuguesa. Trata-se da Mostra, agora na sua segunda edição e integrada no programa da Lisbon Week.

O que é a “Mostra”? O nome é revelador, mas não diz tudo. Tente-se, então, uma primeira descrição. É uma mostra, uma feira e uma exposição multidisciplinar que durante nove dias suspende a aura da arte, aproximando artistas e espectadores.

“Nasceu com a vontade de ajudar os artistas, sobretudo os emergentes, que querem mostrar os seus trabalhos", diz Patrícia Pires de Lima, a mentora do projecto. “Estão a começar e querem expor, conhecer os seus pares. Foi a necessidade de promover a entreajuda no mundo da arte que me motivou a organizar esta exposição.” A Mostra pode ser visitada nos três pisos de um edifício desabitado, na Rua do Centro Cultural 2, no bairro lisboeta. “Alguns artistas já começaram a trabalhar nos espaços. Arranjaram o chão e as janelas, pintaram as paredes. Outros preferiram deixar as salas como as encontraram”. Ao todo participam 85 nomes compondo uma lista onde sobressaem, entre outros, Rui Sanches, Miguel Palma, André Príncipe, António Júlio Duarte, Pedro Portugal, Paulo Catrica, José Luís Neto, João Jacinto, Miguel Ângelo Rocha, Pedro Saraiva ou José Maçãs de Carvalho. A estes juntam-se, claro está, os que estão a começar o seu percurso, os jovens, acabados de sair das universidades. Para a sua selecção, Patrícia Pires de Lima contou com o apoio dos artistas mais experientes. “Alguns são professores e colaboram muito nesse processo. O Duarte Amaral Netto, por exemplo, ajudou a escolher os artistas que trabalham com fotografia. De resto, a todos foi pedido uma biografia e um portfolio. Só depois se fez a selecção”.

A partilha do edifício foi combinada sem percalços. “Houve um claro consenso quanto à ocupação dos espaços. Cada vai ter a sua sala para expor os seus projectos, mas houve quem quisesse ficar nas escadas ou nos corredores”. A par deste ambiente (que se deseja) descontraído, estará a óbvia dimensão comercial, sem prejuízo do papel das galerias. O objectivo é também que as pessoas possam, depois de conhecerem, comprar arte. Mas a qualidade verdadeira da Mostra encontra-se, exactamente, no ambiente familiar e informal que cria entre artistas e visitantes. Foi assim há um ano, na primeira edição, e a organizadora espera que se repita. “Queremos chegar a todo o tipo de pessoas, sejam ou não conhecedoras, incluindo os jovens. Por isso, vamos ter, também workshops, palestras, visitas guiadas pelos artistas e performances. Queremos que se as pessoas se aproximem das obras e dos artistas, sem receios”. Nesta Mostra não há lugar para constrangimentos. A dimensão aurática da arte não entra.

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