Um dos últimos trabalhos do designer James Irvine lançado pela Amorim

O designer britânico morreu em 2013 e deixou alguns trabalhos em curso. Six é um porta-garrafas para a colecção Matéria da empresa portuguesa.

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Six, de James Irivine, junta-se agora à colecção Matéria DR
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O módulo para jornais e revistas Stow it, do designer James Irvine PEDROSADIO&MARIARITA
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Uma ventoinha de secretária desenhada por Irvine para a Muji DR
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As cadeiras Open para a Alias DR
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Pratos Pina, Dina, Gina e Mimma de James Irvine para a Marsotto Edizioni DR

Um dos últimos trabalhos do designer britânico James Irvine, que morreu em 2013 aos 54 anos, foi para a portuguesa Corticeira Amorim e é revelado esta segunda-feira: Six, em cortiça aglomerada e alumínio, é quase tudo para uma garrafa de vinho. Transportador, expositor e repositório, é um dos derradeiros objectos criados por “um designer industrial e de produto excepcionalmente bom”, segundo o designer Jasper Morrison, para a colecção Matéria da Amorim.

Six é o 23.º objecto da colecção lançada pela Amorim em 2011 com comissariado da bienal ExperimentaDesign e que conta já com nomes como os dos portugueses Marco Sousa Santos ou Fernando Brízio e com os internacionais Nendo (Japão) ou Big Game (Suíça). E este objecto do 11.º nome a juntar-se a este elenco é o resultado de um jantar português com vinho do Porto. Mais precisamente, é o que uma refeição frente ao mar suscitou em James Irvine - a vontade de encontrar uma forma de as “garrafas maravilhosas” serem “abraçadas e transportadas”, cita-o a Amorim em comunicado. 

O porta-garrafas é agora um dos legados do designer, que também deixou um lastro no Studio Irvine. Este "material muito sensual", nas palavras da designer e viúva do britânico Marialaura Rossiello Irvine em email enviado ao PÚBLICO, originou um novo plano: "Estamos a pensar com a Amorim em enriquecer a família Six com um sistema Six - imagine uma cantina feita de estantes de cortiça para garrafas".  

Como o nome indica, Six transporta, guarda ou mostra seis garrafas em alvéolos de cortiça aglomerada e a sua alça em alumínio permite transportar as bebidas aninhadas no seu interior. Dada a morte de Irvine em Fevereiro de 2013, o projecto em que tinha começado a trabalhar em 2012 foi completado só em termos de acompanhamento pela sua mulher e sócia Marialaura Rossiello Irvine e pela sua colaboradora muito próxima, o seu braço-direito Maddalena Casadei, que decidiram continuar as actividades do estúdio fundado pelo britânico em Milão no início dos anos 1990. "A minha primeira e mais clara missão era acabar o trabalho que James tinha começado", diz ao PÚBLICO Marialaura Rossiello Irvine. "Realizámos exactamente o primeiro desenho de James", explica, detalhando que foram apenas encontradas postumamente "algumas pequenas soluções novas para fixar a parte de cortiça à pega de metal". 

Marialaura Rossiello detalha que a ideia para a peça surgiu num só dia e, numa nota enviada pela Amorim, descrevia como o processo passou por muita experimentação, mencionando o olfacto e o tacto como elementos fundamentais das escolhas feitas. O processo levou ao foco na ideia de “elemento arquitectónico. E um dia, um James muito feliz mostrou-me um desenho que tinha feito para um porta-garrafas”, conta na mesma nota. A peça vai estar disponível a partir do final deste mês em lojas de museus, de decoração, design e mobiliário em Portugal e no estrangeiro com o preço recomendado de 135 euros. 

Continuar um estúdio e projectos de um designer com uma marca forte foi um desafio para Marialaura Rossiello Irvine.  "Partilhei com James 10 anos de vida: privada e de trabalho, 24 horas sempre juntos. Vínhamos de pontos de vista muito diferentes: James tinha uma mente britânica na sua forma de desenhar. A abordagem dele era muito pragmática e rigorosa mas sempre com uma visão irónica. Já eu cresci no sul de Itália, estudei na Faculdade de Arquitectura de Nápoles, feita de poesia, de um profundo sentimento de tradição e respeito pela história. Esta combinação era uma verdadeira explosão: discussões sempre muito longas em cada projecto mas um enriquecimento contínuo de ambas as partes".

Sobre se se colocam agora questões de diferença de filosofia ou abordagem aos projectos sem Irvine, Marialaura Rossiello afirma que a abordagem sempre partiu "da utilidade de um objecto. Não é uma questão de estilo ou de filosofia particular". "O resultado tem de ser claro e honesto e não seguir um estilo", precisa, postulando que hoje contam com "a prática de design e a visão de vida de James" e que, "sem dúvida, o Studio Irvine tem de continuar". 

Irvine, que morreu aos 54 anos na sequência de uma pneumonia, teve uma carreira associada a algumas das mais sonantes marcas e empresas de design de produto do mundo – em particular, de Itália. Filho do arquitecto Alan Irvine, foi consultor de design para a emblemática Olivetti, onde trabalhou com Ettore Sottsass (entre 1993-97 tornou-se mesmo sócio do colorido arquitecto e designer italiano), e o seu primeiro projecto a solo foi para a não menos importante Cappellini (mobiliário), às quais se seguiram nomes indissociáveis do design nas suas diferentes expressões – da editora Phaidon à japonesa utilitária Muji passando pela Mercedes-Benz ou pela Canon. A sua associação à Amorim não é nova – no projecto Metamorphosis para a ExperimentaDesign em 2013 criou um módulo de cortiça transformável em estante, o Stow It que, aliás, nasceu da pesquisa para Six.

Em 2004, James Irvine recebeu o título de Royal Designer for Industry da Royal Society of Arts in London, uma distinção que visa reconhecer e encorajar os mais elevados padrões no design (já foi entregue aos arquitectos Ron Arad ou Peter Zumthor, aos designers David Chipperfield, Manolo Blahnik ou Issey Myake ou  ao inventor da World Wide Web Tim Berners Lee). Em 2007 a Universidade de Kingston atribuiu-lhe um doutoramento honoris causa em Design.  

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