Nossa Senhora dos super-heróis

Cansativo e monótono, sofre ainda com aquela carga soturna, plena de gravidade “metafísica”, que se tornou “de rigueur” nesta geração contemporânea de filmes de super-heróis.

Trinta e cinco anos depois da série iniciada com o Superman de Richard Donner, que fez de Christopher Reeve o mais famoso e duradouro “super-homem” de cinema, e sete anos depois da aparentemente falhada tentativa de re-lançamento do franchise por Bryan Singer (Superman Returns, de 2006), ei-lo de volta, o mais célebre w da história, o “homem de aço”. O filme de Zack Snyder parte de uma folha em branco, contando o “nascimento” do Super-Homem como se fosse a primeira vez, e preparando o caminho - em as receitas ajudando, como parece que estão a ajudar - para nova série de sequelas.

De Zack Snyder, um dos actuais favoritos de Hollywood para a direcção de “blockbusters” com muito dinheiro e muito efeito especial, não se espera mais do que o que ele dá em Homem de Aço: um frenesi permanente, uma sucessão de estímulos visuais e sonoros que são um fim em si e em caso algum um instrumento para a construção de qualquer coisa que valha a pena confundir com ideias de mise en scène ou de dramaturgia. Cansativo e monótono, Homem de Aço sofre ainda com aquela carga soturna, plena de gravidade “metafísica”, que se tornou “de rigueur” nesta geração contemporânea de filmes de super-heróis. Não há ponta de leveza ou de sentido de humor (voluntário), e no que provavelmente é influência de Christopher Nolan (como produtor, alma mater do filme) as alusões messiânicas abundam e não têm medo do ridículo: há mesmo uma cena em que o Super-Homem, suspenso no ar e com o sol por trás, se apresenta aos pastorinhos, perdão, aos soldados americanos, como numa clássica representação de uma aparição de Nossa Senhora. Por outro lado, o trauma fundador da nova vaga de filmes de super-heróis - o 11 de Setembro: onde estavam eles nesse dia? - é evocado pela milésima vez, em mais uma sequência de destruição urbana que directamente convoca a recordação dos acontecimentos de Nova Iorque em 2001. Sem surpresa, nem subtileza.

O único ponto ligeiramente a favor do filme é uma certa, e inesperada, imaginação no departamento do “casting”. Não o Super-Homem em si (o liso Henry Cavill), mas os secundários: a empertigada Amy Adams como Lois Lane (que não existe como personagem, mas tem uma insolência de que Hawks gostaria), ou os pais do Super-Homem, os esquecidos Kevin Costner e Diane Lane. E sobretudo Michael Shannon, a estrear-se como vilão de blockbuster, como um émulo de Malcolm McDowell que quase - quase - dá gosto ver.

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