Amor

Como as 3D, também Haneke seria bom a filmar animais. Amor não difere substancialmente do que seria o olhar de Haneke sobre uma gaiola onde um casal de hamsters é submetido aos funny games de que o austríaco tanto gosta. Aqui, faz-se adoecer o hamster-fémea e fica-se a ver como é que o hamster-macho reage à situação. Exageramos, claro, mas nem por isso nos rendemos à teoria da súbita “descoberta da humanidade” por Haneke. Toda a humanidade de Amor vem dos hamsters, perdão, dos actores, e da disponibilidade com que se oferecem, e das respostas encontram, à crueldade orquestrada pelo mestre de cerimónias. Já vimos melhores filmes sobre o “amor”, e também já vimos melhores filmes sobre o sadismo. Trintignant e Riva, quase só eles e quase só por eles, ajudam a que Amor seja o melhor filme de Haneke, sem evitarem a sensação de que, no fundo, isto não passa de “cinéma de papa” insuflado a golpes de perversidade calculista (“academismo autoritário”, dizia um crítico dos Cahiers, e a expressão não é mal encontrada).

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