O que é muito, muito bonito, neste filme feito com mais vontade do que dinheiro, é que o fim do mundo mas de um modo geral ninguém - nem o próprio Ferrara - parece especialmente transtornado com o facto. Nem pânico nem luto, é como se estivéssemos muito para além desses momentos, e as 4.44 fossem só a altura da confirmação daquilo que toda a gente já sabe: que isto acabou tudo. Ferrara não se despede do mundo, despede-se de um mundo que foi dele, povoado por artistas e boémios, uma clandestinidade abençoada que não tem mais por onde fluir, cercada por Skypes e ecrãs de televisão onde o mundo aparece como blábláblá. O que torna também especialmente bonito o último passeio de Willem Dafoe pela baixa de Manhattan, na única vez em sai do loft e do terraço, a caminhada pela ruína anunciada e o encontro com os amigos (o “toque”, que é difícil: implica esforço, movimento, é preciso entrar pela janela e tudo). Depois é esperar que tudo se torne white light (e white heat). Há um paraíso algures, como Ferrara, católico romano e católico warholiano, seguramente acredita.
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