Vitus

É o primeiro filme do veterano suíço Fredi M. Murer (nasceu em 1940, filma desde os anos 60) a estrear-se comercialmente em Portugal. A acreditar no que algumas pessoas dizem de alguns filmes seus (por exemplo de "Hohenfeuer", de 1985), haverá bastante melhor na sua obra do que "Vitus". Por outro lado, há certamente bastante pior em exibição actualmente.

"Vitus" é um conto humanista alimentado por uma suave vontade de rebeldia; é a história de um miúdo sobredotado, uma "criança-prodígio" possuidora de um invulgar talento para o piano e de um QI que rebenta com as tabelas de medição conhecidas.

O miúdo (que se chama Vitus) sabe melhor o que quer do que toda a gente pensa, e aborrece-se com a"overdose" de planos que os pais têm para ele e com aestufa em que o fazem viver; tratará, em consequência, de pôr de pé uma ardilosa encenação demaneira a conquistar espaço para, digamos, respirar.

Murer filma esta história com subtileza e atenção aopormenor, sem rasgos mas sem quebras no tom, e sem nenhuma, mas rigorosamente nenhuma, pieguice.

São curiosas as menções à "modernidade", sejam as operações de especulação bolsista a que Vitus (como parte da dita encenação) se dedica, seja a lógicaempresarial feroz da firma onde o pai dele trabalha, seja, ainda, o que rodeia a figura do avô, velhote nostálgico e maior cumplice do neto, apaixonado pela aviação e adepto de simuladores de voo.

O avô é Bruno Ganz, de regresso à sua raiz suíça; os outros actores, Julika Jenkins e Urs Jucker (como pais do miúdo) são excelentes, e o "casting"dos dois rapazes que fazem de Vitus (aos seis e aos dozeanos, sensivelmente) dificilmente teria sido mais certeiro. Uma agradável mediania, para variar.

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