Não é só um "bom filme de terror", é um bom filme "tout court", e o seu interesse transcende o género. O universo que Victor Salva convoca é largo, não se alimentando apenas dos códigos do "horror movie"; e de certa maneira vai mesmo ao que existe antes dos códigos de género, vai à raiz, e por isso "Jeepers Creepers" acaba por ter muito a ver com um daqueles contos de fadas em que tudo acontece porque dois irmãos se desviam do caminho que deviam seguir. Reconhecem-se algumas influências inesperadas (que vão de "Duel" de Spielberg a "Pássaros" de Hitchcock), expostas de maneira perfeitamente orgânica. Mas o que é decisivo, ainda antes de o filme enveredar por um onirismo romântico (a história da "criatura" e da sua atracção) é o modo como Salva é capaz de construir os momentos mais assustadores a partir de cenas onde na verdade nada acontece - é evidente que viu Hitchcock e aprendeu alguma coisa. "Jeepers Creepers" vale mesmo a pena, mas cuidado que mete realmente medo.