Woody Allen a fazer de Woody Allen

O mundo pode ficar descansado porque terá o seu filme de Woody Allen todos os anos - embora, por cá, as contingências da exibição tenham levado a que "A Maldição do Escorpião de Jade" estreasse antes do anterior "Small Time Crooks". E pode ficar descansado, sobretudo, porque sabe ao que vai - até porque os filmes mais recentes do cineasta denotam certa tendência para a redundância. Se Allen regressa aqui aos filmes de reconstituição histórica - à Nova Iorque dos anos 40 -, nesse campo, já deu maiores provas com "A Rosa Púrpura do Cairo", "Os Dias da Rádio" ou "Balas Sobre a Broadway". Terá sido hipnotizado? E se Allen se volta para a intriga policial, semeando piscadelas de olho ao longo do filme - a memória das "screwball comedies", Allen a mimetizar Bogart, Helen Hunt a (tentar) imitar Hepburn, Charlize Theron a cumprir o papel de "femme fatale", sob o modelo de Veronika Lake, a Lubitschiana "Constantinopla" -, ele permanece encerrado no seu próprio universo. É, mais uma vez, Woody Allen a fazer de Woody Allen, com a habitual desmultiplicação de personalidades. Melhor mesmo é ver o actor envelhecido a aguentar-se no papel.

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