Confronto de naturezas

É impecavelmente bem filmado, é colorido e movimentado, divertido e inventivo - podia ser só isto, entretenimento de luxo, e já seria bom. Mas o "Planeta dos Macacos" na versão Burton é mais: a ficção científica transforma-se em fábula (os animais até falam...), as metáforas políticas convertem-se em digressões quase shakespeareanas sobre o poder e as paixões, visíveis, por exemplo, em quase tudo o que tem a ver com a espantosa personagem de Tim Roth; e o fim dessa personagem coincide também com o plano mais grave e mais cruel alguma vez filmado por Tim Burton. Ainda há mais: todo o filme é uma original aproximação ao principal investimento poético da obra de Burton, o tema do confronto de naturezas e das intransponíveis barreiras entre os "iguais" e os "diferentes"; e a extraordinária sequência final vem lembrar que a civilização tal como a conhecemos é algo de muito mais fortuito e aleatório do que gostamos de pensar (e a última semana tornou essa sequência extremamente "actual"...). O filme é óptimo, e não se percebe como é que alguém é capaz de ter saudades do pastelão de Franklin Schaffner.

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