A fórmula de Warhol ainda não se esgotou

E quando se julgava que a fórmula divinatória de Andy Warhol já se tinha esgotado de tanto uso, eis um filme - numa altura em que mesmo os protagonistas do "Big Brother" têm direito a mais do que "15 minutos de fama" - que a recupera para o centro das suas preocupações moralistas sobre o poder manipulatório do pequeno ecrã diabólico.

Não ficara já tudo excepcionalmente exposto em "Natural Born Killers", de Oliver Stone? Não: faltava assegurar que Mickey e Mallory não ficariam sem castigo pelo mau comportamento. Neste caso, a ameaça vem de fora - os tempos da Cortina de Ferro já lá vão, mas enfim... Dois emigrantes de Leste, Oleg e Emil, chegam à América para recuperar o que lhes é devido, o dinheiro de um assalto, que entretanto já serviu a um "amigo" para se adaptar ao "american way of life". Começa o rol de crimes, devidamente registados pela câmara digital (o síndroma "American Beauty") de Oleg, um entusiasta de Frank Capra, que mais tarde servirá para "provar" a inocência dos actos, tão simples de obter no país da irresponsabilidade e dos "cry baby talk shows".
Robert De Niro é a "estrela" (em duplo sentido) da polícia nova-iorquina que trata de perseguir os criminosos (e de, mais uma vez, auto-parodiar a célebre cena de "Taxi Driver", convertendo "Are you talkin' to me?" em "Will you marry me?"), mas desaparece de cena para dar lugar a um neo-Richard Gere (Edward Burns), que acabará por restabelecer os valores (e a virilidade) da grande nação americana - basta um tiro certeiro e um murro no estômago do apresentador televisivo.
O realizador John Herzfeld, sempre atento ao cronómetro (no anterior "Two Days in the Valley", James Spader dava às suas vítimas um minuto para porem a vida em ordem), acaba, afinal, por se distrair com a pulverização de enredos e personagens. Como na televisão, é preciso que o espectador não se aborreça.

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