É um filme surpreendente, porque todo o bloco intermédio com Tom Hanks solitário na ilha está a milhas do "som e fúria" que é normal no cinema americano de grande orçamento, e já agora, no cinema do próprio Zemeckis. Mas também é um filme falhado, dir-se-ia que pelas mesmas razões. Zemeckis continua a ter que obedecer a uma lógica de espectáculo, e por isso neutraliza nesse bloco a dimensão que seria sempre decisiva: o tempo. Sabemos que a personagem de Hanks passou quatro anos na ilha, mas nunca o sentimos - o que é estranho, pois em termos dramáticos a expressão desse tempo seria exponenciadora da solidão da personagem. Em vez de ter a coragem (comercial) de impor ao espectador o tédio de um homem isolado durante quatro anos, Zemeckis opta por rechear o filme de pequenas aventuras, com uma elipse e uma legenda ("4 anos depois") pelo meio. E esse é o momento em que, de algum modo, o filme confessa o seu falhanço - como acontece regularmente no cinema de Zemeckis, "O Náufrago" é acima de tudo uma boa ideia desaproveitada.
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