Fumo Sagrado

Não há propriamente novidades no cinema de Jane Campion, como de costume dividido entre a vontade de ser "vanguardista" e a incapacidade, na prática, de ir além de tímidas variações sobre as convenções formais estabelecidas. Mas saude-se aquilo que impede "Fumo Sagrado" de ser tão irritante como os últimos filmes da realizadora neo-zelandesa: uma espécie de auto-ironia, a tomar o lugar da sisuda auto-consciência habitual, que em vez de "aligeirar" o filme lhe permite investir a fundo nalguns excessos figurativos. É por isso, e por causa desses excessos, que toda a sequência final com Winslet e Keitel fica longe de ser o "último tango no deserto australiano" que parecia previsto, para se transformar num "vaudeville" erótico semi-selvagem onde se encena não só o desejo e a obsessão mas sobretudo - é ver Keitel estendido de vestido vermelho - o patético que está sempre subjacente à entrega total.

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