Raul Ruiz encontra Marcel Proust e, aparentemente esmagado pelo seu objecto, apaga-se perante ele, num excesso de respeito cinematograficamente pouco produtivo. O que é estranho, pois Ruiz, com resultados umas vezes mais felizes que outras, é um cineasta que sempre manipulou e "montou" referências literárias com um à vontade quase rebelde - e veja-se como em "O Tempo Reencontrado" mesmo os "efeitos especiais" ruizianos se reduzem a meia-dúzia de planos em que bancos ou cadeiras se movem sem razão aparente. Ruiz constrói o filme em torno de uma espécie de longo "fluxo de consciência" e é por aí que melhor se vê que alguma coisa falhou: a hipnose e a febre convocadas por tal estrutura são sacrificadas a um quase-academismo onde a preocupação dominante parece ser a "inteligibilidade" da narrativa proustiana. "O Tempo Reencontrado" reduz-se, com poucas hipóteses de redenção (apenas duas ou três cenas, cinco ou seis planos), àquilo que não queria ser: um objecto cultural de luxo, ideal para animar "soirées" pedagógicas sobre Proust.
Gerir notificações
Estes são os autores e tópicos que escolheu seguir. Pode activar ou desactivar as notificações.
Gerir notificações
Receba notificações quando publicamos um texto deste autor ou sobre os temas deste artigo.
Estes são os autores e tópicos que escolheu seguir. Pode activar ou desactivar as notificações.
Notificações bloqueadas
Para permitir notificações, siga as instruções: