Wild Wild West

Barry Sonnenfeld, realizador de alguns dos maiores sucessos da última década do cinema americano (títulos como "A Família Addams" ou "Homens de Negro"), atira-se aqui à mitologia do "western", género mitológico por excelência. Para o transformar, cruzando-o com outros géneros e outras mitologias. Pelo menos, é isso que se depreende das suas próprias palavras quando, referindo Júlio Verne, descreve "Wild Wild West" como um casamento entre o "western" e a ficção científica, uma maneira de chegar àquela que parece ser a grande ideia do seu filme: fazer um filme de ficção científica tal como eles seriam feitos no século XIX, se então já houvesse cinema, evidentemente. Se a ideia vale o que vale, o filme vale ainda um pouco menos. Sonnenfeld e os seus argumentistas não acharam melhor para preencher um cenário de "western", já de si limitado a meia dúzia de motivos clássicos (a ressaca da Guerra Civil, a figura do pistoleiro, o "saloon", etc), do que outros tantos esteréotipos recolhidos na literatura de ficção científica "primitiva". Não falta, portanto, uma vasta gama de máquinas e robôs (de quando a ideia de um mundo inteiramente mecanizado ainda era o sonho da ficção científica), tal como não falta a figura típica de um génio do mal, o homem que pacientemente constrói todo um arsenal capaz de destruir o mundo ? mesmo que neste caso a ameaça incida apenas sobre os Estados Unidos da América. Refira-se no entanto que, no meio da enorme previsibilidade que se apodera de "Wild Wild West", esta personagem, o Dr. Arild Loveless, acaba por ser um dos elementos que melhor funciona: interpretada por Kenneth Branagh (a descobrir uma inesperada vocação de "character actor"), é como o nome sugere um decalque do Dr. Strangelove de Kubrick e é ainda a única capaz de assumir o "cartoon" na sua plenitude. Ofuscado pelos seus "gadgets", Sonnenfeld deixa rapidamente o filme por conta deles e, sem mais nada para mostrar, a monotonia instala-se ? o que é sempre letal num filme que faz do "espectáculo" o seu programa principal. E como a palidez e previsibilidade dos "gags" não ajudam nada, "Wild Wild West" acaba por se transformar em pouco mais do que um veículo para a estrela Will Smith. Estrela asséptica, bem ao gosto MTV (ou não fosse também uma criação dela), de uma monodimensionalidade que tem o condão de se transmitir ao ambiente que o rodeia, e com uma auréola tão "correcta" que impede à partida qualquer arremedo de perversidade. "Wild Wild West" é à imagem da sua vedeta: muita sensaboria apresentada com um sorriso.

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