Deuses e Monstros

Era um dos filmes mais ansiosamente aguardados: Ian McKellen parecia fadado para esta revisita ao velho James Whale, Lynn Redgrave excedia-se num papel de composição, o tom anunciado de tragicomédia parecia convir em pleno ao tema. Afinal, o resultado é decepcionante, uma vez que o filme se arrasta de "flashback" em "flashback" à procura de reconstituições impossíveis da rodagem dos clássicos de terror da Universal. Nem essas rememorações, nem a facilidade de encontrar sósias para Boris Karloff e Elsa Lanchester acrescentam nada à única razão de ser desta biografia fictícia e heterodoxa, a decadência de um dos grandes de Hollywood, vítima de preconceitos sexuais, mas, sobretudo, da mudança de gostos cinematográficos. Uma coisa não desilude: as interpretações superlativas de McKellen e de Redgrave. Já Brendan Fraser abusa do exibicionismo e volta a indicar, depois de "A Múmia", estar condenado a canastrão musculoso de serviço. O oscarizado argumento é bem construído, mas peca por um final moralista e um tanto contraproducente. Sobretudo, depois da quase citação do cadáver na piscina, ficam-nos as saudades de "Sunset Boulevard". Só que realizadores corrosivos como Billy Wilder são espécie totalmente extinta.

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