Infarmed investiga dois medicamentos campeões de vendas em Portugal

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O Infarmed constatou que o consumo destes medicamentos em portugal é muito superior ao da média europeia David Clifford (arquivo)

O consumo excessivo de dois dos medicamentos mais vendidos em Portugal está a ser investigado pela autoridade que regula o sector e que alerta para os riscos que corre quem toma estes fármacos sem justificação clínica.

Os medicamentos em causa são um inibidor da bomba de protões (para o alívio da azia e indigestões) e um antiagregante plaquetário (receitado para a prevenção de acidentes cardiovasculares), revelou o presidente da autoridade que regula o sector. As substâncias activas mais comuns destes medicamentos são o Omeprazol e o Clopidogrel

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), Vasco Maria, manifestou-se "preocupado" com os elevados consumos destes medicamentos.

"Quando comparamos os nossos dados em Portugal com a média europeia, verificamos que em Portugal se utiliza muito mais esses medicamentos", o que "faz supor que se estão a utilizar em excesso", disse Vasco Maria.

Nos primeiros nove meses deste ano, foram vendidas nas farmácias 1.588.208 embalagens de Omeprazol, num total de 67 milhões de euros.

Este medicamento foi, nesse período, o segundo mais vendido em Portugal, representando 14,5 por cento das vendas de medicamentos em ambulatório.

Com vendas menos representativas, mas igualmente "elevadas", segundo Vasco Maria, está o Clopidogrel que é utilizado na prevenção de acidentes cardiovasculares, principal causa de morte em Portugal.

No caso do Omeprazol, o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) reconheceu que se trata de um fármaco de grande prescrição.

Segundo Hermano Gouveia, isso deve-se a vários factores, a começar pelo preço deste medicamento que baixou significativamente nos últimos anos, em parte graças aos genéricos.

Por outro lado, o especialista realçou que têm aumentado os casos de doenças que precisam deste medicamento, como o refluxo gástrico.

Noutras doenças, como as do foro reumático, é utilizado para proteger o estômago dos anti-inflamatórios aconselhados para estas patologias, explicou.

Hermano Gouveia admitiu que o medicamento pode estar a ser usado em casos mais simples, como enfartamento ou dor no estômago, os quais poderiam ter outra resposta, que não necessariamente o Omeprazol.

No caso dos antiagregantes plaquetários, cuja substância activa mais usada é o Clopidogrel, o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) admitiu que poderá haver alguma "prescrição inadequada".

No entanto, Manuel Carrageta apontou à Lusa o aumento das técnicas de intervenção cardíaca como uma das razões que poderão contribuir para uma prescrição tão elevada.

"Os hospitais prescrevem muito [o Clopidogrel] devido à cardiologia de intervenção", uma área que está a "crescer muito" e que implica que os doentes intervencionados tomem o Clopidogrel pelo menos durante um ano.

Por outro lado, Manuel Carrageta lembrou que este é um medicamento "caro" (uma caixa de 28 comprimidos custa cerca de 60 euros) e que "qualquer pequeno aumento de venda tem reflexos imediatos".

Sobre os riscos que a toma indevida deste fármaco pode acarretar para o doente, o presidente da FPC sublinhou que são "medicamentos muito potentes, que têm potencial para provocar hemorragias".

O presidente do Infarmed alerta para os riscos desta situação: "Quando se toma um medicamento que não é absolutamente necessário, há sempre riscos".

A investigação deste organismo do Ministério da Saúde pretende "colaborar com as Administrações Regionais de Saúde (ARS) e com os centros de saúde para saber o que se está a passar".

Questionado sobre o papel dos médicos na prescrição indevida destes fármacos, Vasco Maria escusou-se a acusar os clínicos, mas ressalvou que estes são medicamentos de receita médica obrigatória.

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