Marinha vai investigar hipótese de abalroamento do pesqueiro "Salgueirinha"

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Mergulhadores da Marinha aguardam a melhoria das condições de mar para confirmarem se existem corpos no interior da embarcação Paulo Novais/Lusa

A Marinha revelou hoje que vai investigar a eventualidade de o naufrágio do pesqueiro "Salgueirinha", ocorrido há uma semana, ter sido provocado por abalroamento, uma hipótese levantada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte (STPN).

Em declarações à Lusa, o porta-voz da Marinha, comandante Gouveia e Melo, disse que investigações desse tipo são comuns em caso de naufrágio e "muito mais num caso como este, com seis vítimas mortais".

Segundo o dirigente do STPN, António Macedo, a possibilidade de abalroamento da embarcação foi levantada em conversas via rádio entre barcos que estavam na mesma zona do "Salgueirinha", nos canais de comunicação 16 e 11. "Embora consciente das dificuldades para apurar e esclarecer os factos, exigimos que sejam tomadas todas as medidas no sentido de dissipar todas as dúvidas existentes", sublinhou o sindicalista.

António Macedo pediu ainda um debate "sério e urgente" sobre o socorro marítimo, para que em situações idênticas se possa afirmar que "tudo se fez para um desfecho diferente".

O dirigente sindical, que sublinhou o facto de o Instituto de Socorros a Náufragos ter um quadro de 130 pessoas e apenas 75 profissionais ao serviço, questionou o porquê de o salva-vidas só ter saído para o mar cinco horas após o conhecimento do naufrágio.

António Macedo lamentou, por outro lado, que as rádios-pesca, instaladas nas lotas e que, segundo disse, "poderiam constituir uma ajuda excelente", estejam encerradas à noite.

Confrontado com estas afirmações, o porta-voz da Marinha negou a tardia intervenção dos meios de socorro, implícita nas afirmações do sindicalista. De acordo com o comandante Gouveia e Melo, a Marinha agiu de forma célere, tendo accionado os meios de detecção mesmo antes de ter recebido qualquer alerta formal. "Ao detectar uma comunicação VHF sobre o paradeiro do Salgueirinha, antes do alerta, a Marinha entrou imediatamente em acção, questionando os portos de Aveiro e Leixões sobre a eventual entrada da embarcação", sustentou o oficial.

"Também começámos a chamar todas as embarcações da zona, mobilizámos o sistema de vigilância nocturna da GNR de S. Jacinto, Aveiro, e accionámos o Centro de Coordenação de Buscas", acrescentou Gouveia e Melo, indicando que foi igualmente accionada a consulta à "caixa azul" da embarcação (equivalente à "caixa negra" dos aviões), mas a posição indicada era a de 12 horas antes, quando o "Salgueirinha" se encontrava ainda aportado.

Gouveia e Melo explicou que, em período nocturno, os radares não detectam botes nem balsas salva-vidas, sobretudo quando o mar está agitado, como era o caso. Segundo a fonte, seria também ineficaz o recurso a holofotes ou helicópteros, dado que não havia uma indicação sobre a localização aproximada do pesqueiro.

Quanto às vítimas, o porta-voz da Marinha indicou que, até ao momento, foi localizada a embarcação e resgataram-se os corpos de três dos seis pescadores naufragados. O responsável admitiu que os três corpos por resgatar se encontrem dentro da embarcação, afundada a duas milhas da costa, entre Aveiro e Torreira, a 18 metros de profundidade.

Mergulhadores da Marinha aguardam a melhoria das condições de mar para entrarem no "Salgueirinha" e confirmarem se os corpos dos tripulantes que não deram à costa estão ou não no interior da embarcação.

O "Salgueirinha", tripulado por seis pescadores das Caxinas, Vila do Conde, naufragou na madrugada de 19 de Outubro.

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